terça-feira, janeiro 25, 2011

The Protocol

Olá Amigos ouvintes
Volto ao vosso contacto após este longo período de ausência, período esse que foi aproveitado para outras actividades, de cariz extra-curricular.
Poderia estar aqui a inventar mil desculpas para o ocorrido.
Se quisesse transmitir-vos um pouco de glamour poderia dizer-me envolvido numa operação secreta recheada de beldades louras, ilhas paradisíacas, lanchas rápidas, e vilões badalhocos, qual cenário do ultimo filme do agente de sua majestade.
Calma, que lá pra frente, provavelmente haverão badalhocos...
Se por outro lado preferisse o crime e mistério, poderia falar-vos acerca do meu rapto às mãos dos Druidas Cacais e como estes me mantiveram num cativeiro profundo algures num barracão na floresta, e em que com o cérebro ligado a uma máquina de raios gama, era chicoteado 3 vezes por dia, até os reconhecer como os meus mestres.
Podia contar-vos tudo isso e muito mais, mas não seria verdade.
Não Amigos ouvintes, não vale a pena inventar.
A verdade é só uma.
Estive activamente empenhado na campanha presidencial que agora terminou e como tal sem tempo para mais nada.
Foram muitos Kilometros com a camioneta, a viajar por essa pátria Lusa em busca daquele voto decisivo, daquele abraço popular e daquele incentivo ao candidato.
Bandeiras para os graúdos e autocolantes para a pequenada.
Sim, que isto de viver da camionagem não vai durar pra sempre, um dia vou tirar o pé da lama e subir na vida, tal como alguns dos meus pares que sabiamente viram esse eldorado antes de mim.
Gente de visão, com outro “Mundo” e uma maneira de estar na vida muito mais certeira.
Os invejosos chamam-lhes a turminha do lambe testículo, mas todos nós sabemos o que é a inveja a trabalhar, essa qualidade tão lusa e que nos assola no dia a dia, nas mais pequeninas coisas.
Querem um exemplo do que é a inveja das massas?
Ora aí vai.
Então não é que os tais invejosos andam aí a criar uma celeuma acerca do ensino da camionagem sincronizada.
Não estão por dentro?
Eu explico.
Aqui à uns anos atrás, a CACA e a UPA acharam por bem fazer um acordo de cavalheiros em relação ao dito ensino.
Não que o mesmo não funcionasse antes do tal acordo mas havia que impor algumas regras.
E porquê?
Simples, alguns rapazes mais novos e com sangue na guelra, ambicionavam poder trabalhar com aquela parafernália de botões e aquele painel luminoso existente no Camião-Simulador.
Não que fosse mais giro que o camião real.
De facto não era.
Mas tinha vários apelos diferentes.
Primeiro que tudo, eram botões, luzes e manivelas novas e isto já se sabe, tudo que envolva botanitos, computadores e motores, excita a rapaziada.
Boys will be Boys...
Depois havia igualmente o facto de ali dentro, sentados naquela cadeira, qualquer um se tornar um Doutor, cheio de ciência, saber e poder, muito poder.
E de Doutores sem canudo, à cata de poder andava a CACA cheia.
Finalmente, havia o facto de por cada sessãozita do dito ensino da camionagem sincronizada, tal render ao Doutor a módica quantia de 500 Kwanzas.
Não que isso fosse importante, porque nisto dos Kwanzas já se sabe, a rapaziada é muito desprendida.
Afinal, qual de nós nunca ouviu a célebre frase:
Ah e tal, o Alcides ainda não pagou o que me deve.
Estou chateado pá, muito chateado.
Mas não é pelo dinheiro, é pela atitude.
É sempre pela atitude, nunca é pelo dinheiro...
Adiante.
A rapaziada queria mesmo era poder desfrutar daquele mundo, mas o problema é que quem lá estava não queria sair.
Também gostavam dos botões...
A CACA vendo ali um foco de discórdia e a bem da paz social, qual pai numa briga de gémeos determinou:
Ou há moral ou comem todos.
Sendo assim e a bem da nação, avançou-se para a elaboração do dito acordo.
As partes esgrimiam os seus argumentos.
Dum lado, o presidente da UPA, rapaz com imenso jeito para as artes náuticas liderava, do outro a toda poderosa CACA, com os seus advogados de renome e a sua estrutura impiedosa.
Reúnem-se numa sala e como os tempos eram outros, a cordialidade corria solta.
Começaram por onde todos começam, pelo nome a dar à coisa.
Que nome vamos dar ao documento pensaram.
Tinha que ser uma coisa pomposa, com pinta, que deixasse uma marca para as gerações futuras.
E se chamássemos Documento Regulador do Ensino da Camionagem Sincronizada?
Não, era muito comprido e sem estilo.
Tem de ser mais curto diziam, para ficar na cabeça.
Então e se chamássemos pelas iniciais DRECS.
Não, também não, era demasiado Ponte Vasco da Gama numa sexta à noite.
Que fazer?
Na altura, e por coincidência, um dos intervenientes estava a ler um livro muito interessante de Frederick Forsyth chamado “The Fourth Protocol”, que nos fala do tratado de não proliferação assinado em 1968 entre os USA, Rússia e Grã-Bretanha.
Um livro que aconselho e para os que não tiverem tempo podem sempre ver o filme.
Ora, este acordo CACAL também ele era de não proliferação, não das ditas armas, mas da mamata generalizada e selvagem que se vivia.
Haveria mamata sim, mas seria uma coisa organizada, com regras e tempos de exposição ao virús bem definidos.
Com estas coincidências à vista de todos, o nome estava escolhido e o texto viria por arrasto.
Assim nasceu o documento que iria regular o futuro do ensino da camionagem.
Assim nasceu “ The Protocol” em inglês e tudo, já a pensar na internacionalização vindoura.
Sempre visionários.
Escolhido que estava o nome havia que dar substância à coisa.
O que era importante regular pensaram os seus criadores?
Qual o objectivo principal?
Bom, uma vez que se estava no inicio, importante, importante era passar a imagem que a partir de agora tudo seria diferente.
A transparência seria a pedra de toque.
Os candidatos a “Ensinadores” seriam sempre escolhidos entre os mais aptos.
Não mais haveria o compadrio e as malandrices de que os seus antecessores eram acusados.
Haveria regulamentação, seriedade, rigor e todo um leque de lugares comuns muito em voga para vender ideias.
Quem acedesse a tão alto cargo ficava incumbido de uma missão nobre mas já sabia que o seu tempo era limitado.
Não mais haveria a perpetuação nos cargos.
O poder e os kwanzas seriam enquanto fossem.
Efémero era a palavra de ordem.
E assim foi, foi e foi.
Até que...
Os tempos mudam, os intervenientes também e as vontades alteram-se.
Já se sabe, a história, tal como o espeto em que rodam os frangos de churrasco, é cíclica e só não se lembra disso quem não lê.
Eis que passados uns anos, os homens que tinham usado o tal acordo para chegar ao ensino da camionagem, começam a olhar para o bom do documento com um misto de revolta e apreensão.
E porquê perguntam vocês?
Porque é que o que era bom anteriormente agora já não servia?
Os motivos eram simples.
Primeiro a tal limitação temporal que não permitia a perpetuação no cargo.
Que horror de regra, alguém devia estar sob o efeito de substancias ilegais quando aceitaram essa.
Então agora não posso ficar aqui até aos 72 anos pela alminha de quem?
A juntar a isto, o facto igualmente horrível de não poder escolher livremente os amigos para integrar o leque de iluminados “Ensinadores”.
Alguém já viu aqueles anúncios das imobiliárias que dizem, “junta-te a nós, vem fazer parte duma equipe vencedora”.
Pois, aqui era o mesmo mas a equipa boa, mesmo boa, seria aquela composta pelos amigos que compartilham as mesmas ideias sobre o mundo e as relações empresariais.
Afinal, se em minha casa só entra quem eu quero por que razão aqui, havia de ser diferente?
Isto que tem sido a nossa casa nos últimos anos, onde pomos e dispomos, tão habituados a todos os cantos...
Quase um Lar.
Pois é, mas esqueciam-se os moços que aquilo não era a casa deles e que regras havia, que tinham de ser cumpridas.
Gostassem ou não...
Como não gostavam e os prazos urgiam, eis que os Druidas ligados ao ensino sincronizado, encetam uma jogada de aproximação à UPA.
Reformular “The Protocol” era a palavra de ordem.
As razões apresentadas eram as mais floreadas, desprovidas de interesse próprio, e todas a bem da classe.
Outro lugar comum muito em voga...A bem da classe.
Claro que o facto de muitos estarem em fim de comissão de serviço, com o prazo de validade quase a expirar, qual iogurte de ananás numa prateleira de mercearia de bairro, nada tinha a ver.
Nada.
Igualmente nada tinha a ver a previsão de um ano de actividade intensa, cheio de novos petizes ávidos de aprendizagem e em que aquele camião-simulador voltaria aos seus tempos de glória, com os hidráulicos a deitar fumo tal era o uso sem paragens a que estava submetido.
Ora isto era coisa para render alguns Kwanzas.
500 Kwanzas por sessão, vezes 16 sessões, vezes muitos, mesmo muitos petizes que se prevêem...
É fazer a conta... a bem da classe.
Aliás, o a bem da classe podia ser comprovado pelos últimos acontecimentos relativos à questão do ensino sincronizado.
Numa prova de honestidade e transparência tinha sido convidado um Condutor-Principal para as funções de “Ensinador”, sem qualquer concurso e fazendo orelhas moucas do tal documento regulador.
Assim, sem mais nem menos, só porque sim.
Hum, malandrice, cheira-me muito a malandrice.
Afinal anda alguém a não cumprir o que está escrito.
Não é bonito.
Os camionistas que até fazem piada com o célebre, “Onde é que isso está escrito” e vai-se a ver, no fim pouco importa se está ou não.
Bom exemplo não é não senhor, mas nada que nos surpreenda.
Então querem reformular uma coisa em que nem mostram boa fé de fazer cumprir?
Algo me diz que a UPA vai ter dificuldades a lidar com esta gente.
É sempre difícil negociar com malandros.
A provar a malandrice vinha agora o concurso que entretanto tinha sido aberto para a admissão de mais uns “Ensinadores”.
Antevendo os cortes nos Kwanzas preconizados na comunicação social, a rapaziada afluiu ao dito concurso em massa, fazendo lembrar os jeeps dos GIs engolidos pelos petizes à procura de Candys no Berlim pós guerra.
O concurso foi decorrendo sem sobressaltos, mas os Druidas não estavam dispostos a distribuir os Candys por quem não era da sua cor.
Que fizeram então, perguntam os meus Amigos Ouvintes.
Fácil, vai de chumbar aqueles que não nos agradam, através do não cumprimento do que está escrito.
Só porque sim.
As razões apresentadas para tais decisões eram várias e todas reveladores de alguma comicidade.
Ora porque os candidatos não tinham tempo, ora porque não tinham saúde ou porque eram altos, baixos, gordos ou magros.
Igualmente reprovados os que tendo desempenhados funções anteriormente, tivessem saído irritados.
Ali não havia espaço para irritação, pois praticava-se uma cultura ZEN.
Zen vergonha...
Perante tudo isto, com tanta confusão e incumprimento, o que será o futuro do ensino perguntam vocês?
Tudo dependerá do que se fizer da lei.
Por agora a Lei é uma e tem de ser cumprida.
Qualquer estado começa o seu declínio quando faz da lei, letra morta.
Setembro está aí à porta e com ele o prazo de validade de muitos dos “Ensinadores” actuais.
Querem-nos fazer crer que sem eles morre o ensino da camionagem e reinará o caos e o obscurantismo.
Há quem diga que o problema é outro, é mais um problema de uma fonte que teima em minguar e que os que lá bebem não querem que seque.
E vocês, o que acham?