segunda-feira, outubro 18, 2010

O Manifesto

Basta pum basta!!!
Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!
Abaixo a geração! Morra o Dantas, morra! Pim!
Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!
O Dantas é um cigano! O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!
O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!
O Dantas é um habilidoso! O Dantas veste-se mal!
O Dantas usa ceroulas de malha! O Dantas especula e inocula os concubinos!
O Dantas é Dantas! O Dantas é Júlio!
Morra o Dantas, morra! Pim!
E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu! O Dantas é um ciganão!
Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
O Dantas é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!
O Dantas é um soneto dele-próprio! O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.
O Dantas nu é horroroso! O Dantas cheira mal da boca!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas é o escárnio da consciência! Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!
O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!
O Dantas é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas! E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa! E quem tenha dó do Dantas!
E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!
Vocês não sabem quem é o Dantas? Eu vou-lhes contar:

Com este manifesto tão actual, iniciamos hoje mais uma história da camionagem.
História ficcional claro está.
Aqueles de vocês que pensam ser este manifesto um texto antiquado e bolorento, desenganem-se.
Nunca foi tão actual e tão sintomático dos dias agitados que se viviam na CACA.
Ai vocês não sabem? Então, tal como o poeta, eu vou-vos contar.
Os últimos tempos eram de descontrolo total por parte dos Druidas.
Andavam nervosos devido a vários assuntos.
Queriam descanso para gozar os Kuanzas que rolavam em catadupa mas não havia maneira de o terem.
Desde à algum tempo a esta parte que a operação das Camionetes não andava bem, a juntar a inúmeros problemas que vinham de trás.
A CABO por exemplo, não ajudava.
O pessoal da CABO, com aquela mania parva de cumprir o que estava acordado, recusava-se por vezes em servir as iguarias especiais que a CACA preparava para os seus clientes.
Iguarias preparadas por cozinheiro de renome, não viam a luz do dia devido à falta de planeamento atempado.
De quem era a culpa perguntam os meus Amigos ouvintes?
Seguindo a tendência da rapaziada que tem governado a Pátria e que quando se vai a ver, não têm culpa de nada, também eles os Druidas assim se achavam, isentos de responsabilidades.
Que a culpa era dos da CABO que não queriam fazer.
Dizia a história que a CABO tinha um acordo firmado com a CACA.
Goste-se ou não dele, lá que tinha, isso tinha e como em todos os acordos feitos por gente de bem, era pra cumprir.
O tal acordo dizia que numas determinadas camionetes trabalhavam 4 Cabistas e noutras, por serem maiores, trabalhavam 5.
Os chefes dos Druidas, acharam que o acordo não lhes servia e vai daí, tinham de fazer alguma coisa.
O que fazer pensaram.
Tinham dois caminhos.
O primeiro passava por falar atempadamente com a rapaziada da cabo escutar os seus anseios e negociar, negociar, negociar.
Dava trabalho.
O segundo era mais fácil e passava por acreditar que com um passinho de dança, uma falinha mansa e um jeitinho de ancas tudo se consegue.
Pensaram e decidiram.
Olha lá, à frente da CABO não está aquela moça desorientada e que se quer orientar?
É verdade, está mesmo.
Opá, então vamos orientá-la e pelo meio resolvemos o nosso problema.
Se bem o pensaram, melhor o fizeram e em menos de um nada, sai um acordo de intenções para que os Cabistas passassem a ser menos, fazendo o mesmo trabalhinho.
Seria uma poupança de 20% a 25% conforme o caso.
Um piparote de Kuanzas de poupança que poderiam ajudar a colmatar alguns investimentos ruinosos do passado recente.
Tudo feito e assinado, só faltava a aprovação do documento em reunião magna.
A Chefe da CABO tinha garantido aos Donos que a coisa seria aprovada, sem contar com a opinião generalizada dos seus pares, que estava claramente contra.
Um azar nunca vem só e os Cabistas, armados de opiniões, não aprovaram, mostrando uma total falta de “Espírito de Missão”.
Com votação esmagadora o belo documento de intenções caiu por terra.
Malandros.
A vaia foi total e só faltaram os tomates arremessados pro palco por parte da audiência.
Também faltaram dos outros para fazer mea culpa e sair de fininho, mas isso já ninguém estava à espera.
A CACA, qual Amante descoberto em roupeiro alheio, ficou de calças na mão.
Nada a fazer, com o tempo a jogar contra, ainda encena a fuga para a frente, tentando acenar com umas cenouritas á miudagem.
Dobramos os Kuanzas e tal...
Mas a miudagem já não ia lá com cenouras, a desconfiança era grande e a operação das camionetes acabou bastante penalizada.
Isto de contar com a apatia alheia e o ovo no rabiosque do galináceo tem destas coisas.
Para os Condutores-Principais era espectacular, e retirava a monotonia da vida, uma vez que nunca sabiam atempadamente se iriam ter os Cabistas necessários à boa condução da viagem, o que conferia grande emoção à coisa..
Tal como os afamados Pimentos, passaram a ser viagens, umas com refeição, outras não...
Já ninguém acreditava numa solução a curto prazo e assim se passou mais uma época estival com a imagem para o exterior cada vez mais catita...
Os clientes esses, andavam irritados como é óbvio, pois para ter tratamento de vão de escada a preços destes, não obrigado.
Kuanzas à fartazana gastos em refeições rápidas de aspecto duvidoso e milhares de outras deitadas ao lixo pois uma vez entradas nas camionetes, não há volta a dar, nem que seja na camionete que sai meia hora depois.
É lixo e não se fala mais nisso, porque o “Sistema” não permite.
Dizia-se à boca pequena que o tal do “Sistema” devia ser um tipo barrigudo de bigode e que ganha a sua comissão à sandocha vendida...
Que o “Sistema” é aquilo que quisermos que ele seja.
Quem fala assim, desconhece por completo as complexidades do mundo empresarial.
Gente sem visão Exogena, está bom de ver...
E a culpa a morrer solteira, como se quer nas incompetências.
Outro dos problemas que afligia os Druidas eram os Mapistas, grupo nunca referenciado antes mas que já vai sendo tempo de ter os seus minutos de fama.
E quem eram os Mapistas perguntam os Amigos ouvintes?
Os Mapistas eram uns tipos simpáticos, com recursos infindáveis e que ajudavam os Condutores na nobre missão da Camionagem.
Gente muito necessária em qualquer empresa do ramo.
Era necessário mais carburante, pede ao Mapista.
Ah e tal, a camionete mudou de lugar, o Mapista avisa.
Preciso de uma autorização pra circular por outras estradas, o mapista arranja.
A Pátria de Bonaparte encerrou pela centésima vez, o Mapista resolve, and so on, and so on.
Dito isto e numa acção ainda hoje por entender, eis que os Druidas resolvem mudar os Mapistas de local de trabalho.
Que ficariam melhor noutro local, que seria uma questão de hábito era o mote.
É óbvio para todos que qualquer serviço de extrema importância funciona sempre melhor quando os interlocutores estão separados por distância e por um telefone.
Isso do cara a cara é coisa antiquada e não tem lugar neste século cibernético.
No seu lugar deixaram um novo dono do local que se comprometia a fazer funcionar a coisa.
Assim foi e lá se transferiram os Mapistas.
O local ficou triste, sem vida e vazio, não se antevendo os tais ganhos operacionais tão propagados na comunicação social.
Foram, mas foram danados.
E terminou por aqui a saga dos Mapistas.
Queriam?
Claro que não terminou.
Os Mapistas tinham expressado a sua revolta anteriormente e recorrendo a uma figura que ainda existe na lei, eis que encetaram uma paralisação geral.
A tal paralisação era legal, completamente legal, mas arreliou bastante os Druidas.
Durante a dita, a CACA, que não aprecia contrariedades, recorreu, como sempre aos suspeitos do costume.
E quem são os Usual Suspects perguntam vocês?
Não, não tem nada a ver com o filme e o nome não é Kaiser Sose.
São sim, aqueles malandros que têm um umbigo grande, uma ambição maior e justificam-se perante os seus pares com o tal “Espírito de Missão”.
Normalmente só eles o têm e a sua luz e visão, advêm dessa qualidade
Uma maneira bonita e floreada de dizer, vou-te fecundar se tiver que ser porque estou-me nas tintas para os outros.
Existem em todo o lado e é só abrir a porta e deixá-los fazer o dirty work.
Esses 2 ou 3, imbuídos do tal “Espírito de Missão” e encharcados em red bull, fizeram o trabalho de 20, usando terminais remotos e dando ao tele-trabalho uma nova dimensão.
A operação das camionetes não saiu penalizada e os Mapistas, vendo que tinham sido traídos pelos seus, resolvem abortar a paralisação, pois não havia solução à vista.
Apesar da volta à normalidade, os Druidas levaram a mal a desfeita e ficaram irritados.
Uma vez que a lei é palavra vã naquelas paragens, eis que marcam a caneta vermelha os principais malandrecos sabotadores, sempre à espreita de um oportunidade para mostrar o seu “desagrado” num futuro próximo.
Assim que pudessem, pimba que já estás.
Não demorou muito e usando argumentos que fariam corar qualquer relator do santo oficio, eis que conseguem pôr em casa sem prazo definido, a líder do grupo dos Mapistas.
Junto com ela, foram mais uns que isto de aviar tem de ser aos grupos para causar mais impacto.
Aviso à navegação, e dos bons, dirão uns.
Uma vergonha de actuação, mostrando a falta de argumentos dirão outros.
O que conta no fim da história é que gente boa e de valor é achincalhada na sua dignidade, perdendo alegria, sanidade e gosto pelas camionetes.
Uma herança pesada para o futuro era o que ia sendo construído.
Mas se acham que o incidente com a Chefe dos Mapistas é coisa de monta e arrelia qualquer pessoa de bem, então que dizer sobre o próximo caso.
Um Homem sério, Condutor-Principal, com a vida inteira dedicada à CACA.
Nela tinha cumprido e desempenhado vários papeis, sempre com esmero e dedicação.
Um dia comete o erro de pensar que está a lidar com gente honesta e dá-se mal.
Eu explico.
Devido a conflitos laborais esteve eminente uma paralisação por parte dos Condutores.
Nessa altura, tal como noutras veio ao de cima uma “indignação” da opinião pública, muito característica de quem está mal resolvido na vida.
Os antigos chamavam-lhe inveja.
Eis então, que no meio deste rebuliço, algumas funcionárias mais diligentes se entretêm a trocar mensagens de teor ofensivo à classe dos Condutores.
Isto durante o expediente e usando os recursos da CACA.
Cansadas da sua actividade diária de roço de cauda pelas paredes CACAIS, resolvem incitar as outras comadres à revolta.
Tudo começava na secretária de 2 pernas de um famoso Director da estrutura CACAL, que incentivava as outras comadres a tomar uma posição.
Com contornos de revolta popular, pede às outras que façam circular a mensagem, tenta organizar o ajuntamento e distribui mimos vários.
Apelidava a classe de Camionistas de “Mercenários Prepotentes”
Bonito de se ler.
Este nosso amigo Condutor, indignado, faz uma carta ao seu chefe directo, o Druida-Mor, procurando obter uma resposta aquela afronta pública.
O seu chefe na resposta....
Peço desculpa pela incorrecção.
Quem responde inicialmente não é o Druida.
Talvez por falta de tempo, talvez por não ter uma folha à mão, o que é certo é que quem responde à carta enviada ao Druida é a própria da comadre.
Que bonito.
O Druida-Mor delega na comadre, a resposta a um pedido de esclarecimento feito por um Condutor-Principal.
Fantástico.
Não contente com isso, numa missiva enviada à posterior diz que o assunto em questão é do foro privado pois tal acontece numa conversa privada tida na internet e que ninguém tem nada a ver com o assunto.
Onde é que eu já ouvi isto?
Ah, ouvi sim, mas ao contrário.
Diz ainda que o nosso amigo Condutor têm uma visão deturpada do assunto e que afinal ele é que estaria errado ao intrometer-se numa conversa privada.
Nada como ver a justiça a funcionar à medida de cada um.
Dá-nos mais alento para o futuro...
O nosso Condutor-Principal, teve que se resignar a receber uma resposta da dita comadre, onde esta dissertava toda a sua indignação.
Os malandros adoram indignar-se, é uma coisa que lhes advém da moral superior...
E em termos de moral, pelos vistos, ninguém a bate.
Poderão achar estranho esta defesa da honra comadresca, em que um Druida-Mor, defende uma secretária de 2 pernas de um dos seus Director.
Porque raio um Director fará tanta força junto de um Druida-Mor para defender a honra da sua secretária?
Não consigo encontrar uma resposta, mas lá que deve haver deve.
Vá lá, pensem um bocadinho....
E assim ficava mais uma vez provado o brilhantismo dos Druidas, nas resoluções de questões mais delicadas.
O nosso Condutor levou com um dia de suspensão pra ficar enquadrado.
Justíssimo sim senhor.
Claro que o dia de paragem foi oficialmente por outra razão, mas já sabemos que há sempre muitas maneiras de esfolar um gato.
Assim ia o mundinho da CACA, mergulhado em processos kafkianos, quando mais uma diabrura vem ao de cima.
Passo a relatar.
Um dia, sai uma Carta Incrível a que ninguém ligou.
Cartas Incríveis, eram a forma com que os Druidas davam as boas noticias, as más ou as noticias assim-assim, sendo um estilo de comunicação muito apreciado, a julgar pela quantidade e cadência a que eram emanadas.
Dizia eu, um dia sai então mais uma Carta Incrível a que poucos prestaram atenção.
Muito blá-blá-blá e que dentro em breve os Kuanzas que a rapaziada recebe para suportar as agruras da ausência do seio familiar seriam revistas dados os novos condicionalismos a ter em conta, em que a vertente sócio-económica vigente, se torna um paradigma digno de relevo, numa sociedade em construção que se quer mais digna, e blá-blá-blá...
Epá, finalmente pensou a rapaziada.
Mais uns Kuanzas para repor os valores que não eram revistos faz muitos anos, granda pinta.
E quanto é que sobe, alguém sabe?
Ninguém sabia.
E passados dois dias já ninguém se lembrava que isto das camionetes, viagens, miudagem na escola, contas pra pagar, este ministro que não me dá descanso, enfim, muitas coisas a tratar e algumas a ficarem esquecidas.
O tal quadro com os novos valores não estava disponível mas seria anunciado futuramente em data e locais próprios.
O tempo passou e o quadro não desabrochou...
Estranho, pensou a rapaziada mais atenta, não descortinando o que aí vinha.
Então, num dia ensolarado, em mais uma brilhante jogada CACAL eis que o quadro é enviado ao povo, no meio de um documento de 30 páginas, daqueles que passam por todos com a rapidez de um click de mouse.
A ver se pega.
Claro que não pegou e os mais atentos logo se encarregaram de pegar na trombeta e bradar aos ventos a tal patranha.
Os ajustes eram pra baixo.
Estão-nos a ir ao bolso gritava o povo já ciente do que se passava.
Que era mais justo diziam alguns Druidas, mas isto já se sabe que o sentido de justiça é da cor do bolso e dos interesses de cada um.
Uns havia que diziam saber a razão destes ajustes.
Davam como prova o facto de agora já não ser necessário a alguns Camionistas da camionagem pesada dormir nessas paragens e assim os valores poderem ser reduzidos sem impacto na economia privada dos ditos senhores.
Rebuscado é certo, mas como é mesmo aquele ditado de nuestros hermanos sobre as bruxas?
Pois esse.
Os Druidas, continuavam no meio disto tudo a levar o seu “Espírito de Missão” ao expoente máximo.
Descartando-se de toda a responsabilidade, esquecendo-se do efémero das funções que desempenhavam, esquecendo-se porventura da sua origem laboral e sendo marionetas nas mãos dos donos.
Sim donos, que isto quando se é comprado têm-se um dono.
Ainda no outro dia, comprei um yo-yo, dei Kuanzas e trouxe o yo-yo.
De quem é o yo-yo?
Meu, é claro, paguei é meu e faço dele o que quero.
Era mais ou menos isso, mas sem a parte lúdica do yo-yo, com aqueles truques giros.
Os truques aqui eram outros.
Entretinham-se a vender moral e bons costumes, apesar da sua estar de rastos.
Amigos de longa data deixavam de o ser e as relações deterioravam-se diariamente, fruto do autismo que trilhavam.
Já dizia o poeta que não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador.
Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!
Elucidativo não é?
E os nossos Druidas eram de pantominas várias.
Apesar dos olhos meigos, dedicavam-se a calar todas as vozes discordantes, cerceando tudo e todos na sua opinião, fazendo da força o seu único argumento e achando nisso a melhor forma de resolver os problemas.
Diz-se que qual Copcon, também eles teriam autos de prisão domiciliária assinados em branco, para mais rápido desenlace de futuros processos.
Tentavam desta maneira perpetuar-se na Druidice, mas ninguém é eterno e o passado é sempre cobrado no futuro.
Entretanto a Pátria que nos pariu definhava lentamente e cortes eram anunciados com aquele ar pesaroso e circunspecto, pelos responsáveis.
Ficamos todos a saber que apesar de não termos primos nem irmãos em nenhum organismo nem fundação da dita Pátria, a culpa disto também era nossa.
Quem já desconfiava que aqueles milhares de Kuanzas que entrega às autoridades mensalmente indiciavam uma culpa latente, passou a ter a certeza.
Tempos de corte e contenção eram anunciados na pantalha, recorrendo a tons sisudos, gráficos mil, equações complicadas e ameaças de entrada do Fundo Monetário em solo Luso, mas no fim, em Português do tempo de Vasco Santana o que nos queriam mesmo dizer era, Aperta o cinto ó Zé...
E nós lá teríamos de apertar. Mais uma vez.
Ou seja, apesar da CACA não ser uma empresa amiga durante os 12 anos em que nunca foi contemplada com nenhum aumento de Kuanzas, agora que era pra contribuir já a coisa mudava de figura.
Apesar da falta de Kuanzas na CACA, ainda assim abundava o vil metal para as tropelias,
Devido a birras passadas, um curso interessantíssimo tinha sido criado.
O Curso que teve como objectivo a punição directa de um grupo, tinha-se tornado um elemento educativo e de correcção de comportamentos na mão dos Druidas.
Tipo a palmatória do tempo dos nossos pais, mas em formato académico século XXI.
Agora quem não concordasse com alguma coisa, fizesse banzé, ou respondesse em termos que não agradassem, teria ali o espaço de enquadramento necessário.
Os Druidas rejubilavam com a sua criação.
Além da moca afiada, havia a componente monetária tão cara aos formadores, sim que isto de ir dar cursinhos correctivos, também rende Kuanzas e pra isso estamos cá nós.
A necessidade que os Druidas viam da frequência do dito curso era enorme.
Não acreditam?
Sai um exemplo.
Num determinado domingo ensolarado, uma falta de Condutores-Principais assolou 7 viagens.
Pois vocês acreditam que havendo um Condutor que se disponibilizou insistentemente para qualquer uma dessas viagens, a CACA preferiu ir buscar Condutores em férias e em descanso, tudo para não privar este nosso amigo da frequência do dito curso no dia seguinte.
Pagou o dobro e o triplo a quem veio salvar a coisa, havendo mesmo viagens a sair com 2 horas de atraso, mas cursinho é cursinho e tinha de ser feito.
Foi pena a opção, pois infelizmente o nosso amigo adoeceu e perdeu tão espectacular oportunidade.
Estou certo que novas chances surgirão no futuro, mas não deixa de ser caricata a opção tomada, envolvendo tantos recursos.
E depois, ai, ai, ai que não há Kuanzas...
Há quem diga que são birras pessoais, mas não iremos acreditar que quem gere tão grande empreitada deixe a sua inteligência toldar-se por coisas tão mesquinhas.
No meio de tudo isto, a Rapaziada da UPA está de saída e vêm aí pessoal novo.
A chance de mudança está à porta.
As várias listas que se apresentam a votação têm programas diferentes e é altura de escolher em consciência, o futuro que se quer.
Estou agora a analisar a correspondência que me chegou e só me enviaram uma lista.
Deve ser um erro e as outras opções devem vir noutro envelope.
Vou ligar pra UPA e esclarecer.
........
........
........
Estou de volta.
Peço desculpa mas enganei-me.
Devia ter feito melhor a pesquisa e por isso me penitencio, mas estava completamente convencido que as listas eram várias.
Então vocês querem ver que esta é lista única.
Com a breca, ele há coisas que desafiam a minha percepção.
Então depois de tanta conversa, só aparecem estes?
Logo estes?
Eu que apostava numa contenda eleitoral disputada camionista a camionista, argumento a argumento, fazendo lembrar a batalha de Berlim, bairro a bairro, eis que sou mais uma vez defraudado na minha expectativa.
Não se faz.
E agora? Qual a moral dos que ficam no sofá, para ir dizer que está mal e aquele conversinha toda.
Será que os Contristas vão ter cara-de-pau de continuarem a falar.
Aqueles que falam de boca cheia acerca da moral alheia e vai-se a ver têm 74 dias de descanso em atraso e um piparote de horas a mais no bucho.
Será que esses vão aparecer para gritar?
Até aposto que sei a resposta...
Adiante, lembram-se de vos contar das guerras recentes à volta dos Kuanzas a mais que os Condutores conseguiram?
Com este plano maquiavélico de saque governamental a ter sucesso, muito desses Kuanzas poderão vir a desaparecer, mas não deixa de ser interessante pensar para que níveis Kuanzisticos iriam os condutores caso a quantidade mensal auferida fosse a antiga.
Claro que muitos dos Condutores, daqueles que realmente se importam, não acreditam na inevitabilidade deste saque e procuram meios de contrariar o assalto.
Havendo união tudo será possível.
Em tempos ninguém acreditava no Acordo Velhotes e igualmente falavam da inevitabilidade da lei.
Quem quiser saber a verdade, fale hoje com um dos velhotes e descubra por si o poder da união, o poder de acreditar.
Eu, que já conheço a rapaziada, tenho a certeza que aparecerão alguns “Salvadores da Pátria” que inundados de “Espírito de Missão” tudo farão para nos provar da inevitabilidade da coisa, mais uma vez.
Falarão de responsabilidade social, agitarão as bandeiras de sempre.
Haverão relatos caóticos e antevisões de um futuro negro em caso de não aceitação.
Dirão que é uma vergonha pensar assim, que o esforço deve ser de todos e que alinhar nisto é uma prova de patriotismo.
Que tem de ser, que o país precisa e que os camionistas têm de dar o exemplo.
Os mesmos Camionistas que são achincalhados pela populaça em qualquer mesa de café ou programa de TV...
Falarão de uma moral maior e tentarão provar-nos que os portugueses decentes foram aqueles que morreram com escorbuto a caminho da Índia, esses sim, são os exemplos a seguir.
Os outros (Todos nós), somos malandragem.
Isto tudo enquanto comem a sua frutinha e os seus legumes cheios de vitamina C claro está, que o escorbuto é bonito mas não é pra eles.
Já dizia o poeta.
Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi.
É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos!
É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!

Fica a pergunta, e nós, até quando vamos permitir estes Dantas a representar-nos?

sábado, outubro 09, 2010

Dia 152

Amigos Camionistas
Não resistimos a transcrever um magnifico texto que recebemos em forma de comentário à "Carta ao Amigo".
O nosso muito obrigado a quem enviou esta pérola que tão bem descreve a nossa situação actual.
É bom saber que nos acompanham.


Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho
e a oportunidade de vivermos felizes e em paz.
Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha,
sem respeito e sem dignidade.
Obrigado por nos roubarem.
Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono.
E a tranquilidade.
E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.

domingo, setembro 19, 2010

Carta ao Amigo

Meu caro Amigo,
Perdoa-me por favor, se eu não te faço uma visita mas como sabes, devido aos afazeres da vida temos tido pouco tempo para estar juntos e trocar ideias.
Escrevo-te hoje porque ando triste e precisava desabafar.
Nem sei por onde começar.
A coisa aqui na CACA, está como diz o grande Chico, está preta.
Muita mutreta pra levar a situação, a gente vai levando de teimoso e de pirraça...
As decepções tem sido mais que muitas e pessoas que julgávamos decentes, eis que se nos apresentam com uma postura diferente.
Muitos de nós nunca tivemos dúvidas, pois a alguns já os conhecemos à mais de uma vintena de anos e sempre tiveram lá o bichinho da malandrice.
Apesar da aparência exterior ter vindo a melhorar significativamente nos últimos tempos, mercê dos altos cargos ministeriais, o que é certo é que por dentro tem vindo à tona tudo aquilo que estava adormecido.
Já exala algo de mau e o cheiro começa a contaminar tudo.
Para te ser sincero, ainda não percebi se é um qualquer perfume barato, resquícios de outros tempos em que os Kuanzas não abonavam ou se é aquele cheiro a podre que vem das embalagens estragadas.
Ando na dúvida, mas lá que cheira, isso cheira.
As coisas que tenho visto e ouvido, fariam corar de vergonha qualquer inspector da velhinha STASI, daqueles mais duros que ficaram até cair o ultimo calhau do muro.
Lembras-te da STASI, naqueles tempos em que o mundo se dividia em bons e maus?
Pois era, tínhamos a RFA e o mundo livre dum lado e do outro a RDA, alicerçada em Mockba.
Sabíamos com o que contávamos e os maus estavam do outro lado do muro.
Identificados que estavam, só lhes faltava a placa ao pescoço com a inscrição “Bad Guy”.
Os maus eram maus e assumiam, nós éramos “The good guys” e sabíamos que estávamos certos.
Todos identificados, era mais fácil a vida. Muito mais.
Se fosse necessária a confrontação, já sabíamos com quem seria, pois eles, os tais Bad Guys não se faziam passar por nossos amigos.
Assumiam a sua Bad Guyice.
O problema que grassa hoje na CACA remete-nos para esses tempos do Herich Honecker, em que as conversas eram em surdina e a desconfiança geral.
E isto tudo porque os Bad Guys de hoje querem-se fazer passar por Good Guys.
Ao mesmo tempo que nos atiram as suas bombas de fabrico caseiro, vão-nos dizendo que somos tipos espectaculares...
Apenas mal encaminhados, mas que temos salvação.
Ai que saudades do Santo oficio, do seu tribunal e da fogueira purificadora...
Claro que a salvação não é assim sem mais nem menos.
Uma vez que a fogueira caiu em desuso devido aos ambientalistas e essas coisadas modernas, eis que os Druidas arranjaram outra solução.
Assim, a dita salvação é alcançada através da colocação de um implante cerebral que consiste num chipzito que emite uma descarga eléctrica sempre que tenhamos a ousadia de pensar pela nossa cabeça.
Ouvi dizer que quem o coloca, passa a ter uma atitude bem mais “ponderada”, anda mais relaxado no dia-a-dia e vive em harmonia no mundo CACAL.
Só vantagens.
Com tantas qualidades, perguntas tu, meu Amigo, porque tanta gente se opõe a tão “benéfico” tratamento.
Eu explico.
É que a operação de colocação do implante tem um senãozinho.
Apesar de me garantirem ser rápida, segura e relativamente indolor, apenas funciona com o relaxamento total do esfíncter, caso contrário pode ser até mortal.
Imagina tu, com tanto lugar no corpo humano e aquilo sendo um chip cerebral, pois tinham logo que escolher essa via para a introdução do aparelho.
Às vezes pergunto-me quem é que decide estas coisas.
Ainda se fosse um comprimidinho de 6 em 6 tipo antibiótico, ou pelo nariz até, um tipo espirrava 3 vezes e aquilo lá passava, enfim qualquer coisa, mas não, tinha logo de ser desta maneira.
Devido ao método, muitos Condutores optam pela não colocação.
Dizem que é demasiado moderno...
Enfim gente sem visão e pouco patriota.
O que é certo é que os implantes têm tido alguma procura entre rapaziada mais afoita.
Alguns dizem-me, até repetiriam a operação, não fosse o custo monetário envolvido e o dispêndio de recursos importantes.
Tudo pela CACA.
Não sei se do efeito apaziguador, se das descargas eléctricas, o que é certo é que depois da colocação a rapaziada acalma e passa a concordar sempre com os Druidas.
Estás a ver aqueles filmes de zombies em que os que ainda não foram infectados tentam passar despercebidos entre aqueles que já apresentam um vazio no olhar e um caminhar estranho?
A vida dos não-chipados é em tudo semelhante, mas sem aquela mamalhuda que é a primeira a morrer às mãos dos famintos e raivosos.
É sempre a mamalhuda a primeira a dar-se mal, nunca percebi essa.
Enfim, adiante.
Tal como nos filmes, o problema do bom funcionamento do plano de dominação e contágio, reside nos que não colocam o implante.
Para esses, que não querem ver a luz, não existe outra solução.
Se tudo lhes é oferecido à troca da alma e mesmo assim não querem, então não há dúvida que é gente que não interessa, pensam os Druidas.
Toma lá com perseguições, tentativas de intimidação, ameaças de processos, mentiras, enfim, um rol de diabruras sem fim.
Com tudo isto, o medo tem alastrado e sente-se.
Os camionistas já têm muito cuidado com quem falam, pois tem sido promovida uma politica de recompensa aos delatores, vulgo chibos de outrora.
A táctica, embora velha de muitos anos, sempre foi usada com relativo sucesso no curto prazo.
Os traidores existem desde a génese do mundo e até da nossa Portugalidade.
Veja-se o caso do grande Viriato que só traído pelos seus, sucumbiu perante o império romano.
E era Pastor...
A diferença reside no facto de no antigamente aos chibos, quando apanhados, o tratamento dado ser outro, mas já se sabe, mudam-se os tempos, os séculos avançam e a rapaziada tende a perdoar.
Agora ser chibinho ou chibinha é um estatuto.
Imagina tu isto, chibinho ser um estatuto. Está tudo perdido.
Com esta politica, muita rapaziada apesar de descontente com o rumo das coisas, tenta manter-se fora da tempestade, para não ter de colocar o tal do chip.
É a velha máxima de enquanto não me vierem buscar a mim, vou assobiando para o lado.
Infelizmente já todos sabemos como termina não é?
Tudo isto acontece só e unicamente devido ao medo.
O medo, esse factor que não mata, mas paralisa.
No império dos Czares foi usado com assinalável sucesso e nos regimes do género normalmente surte o efeito desejado.
Viva PyongYang...
Os Druidas tentam assim abater todos aqueles que não concordam com eles, seja através de processos kafkianos, seja através de perseguições encapotadas.
Ai não queres o chip, ai o esfincter não relaxa, então toma lá um processozinho porque... qualquer coisa.
Isto gera nos outros o tal efeito de cagaço que faz com que apesar de muitos se identificarem com a causa, preferirem nem pensar nela pois acham sempre que são menos e sairão derrotados.
Que erro de julgamento digo-te eu.
Se os camionistas falassem mais uns com os outros iriam perceber que há muitos, cada vez mais a pensar do mesmo modo.
Um dos problemas têm sido a grande manhozisse com que as coisas são feitas.
Sim, Amigo meu, tu não penses que isto tudo é feito de cara feia e a dar murros na mesa.
Nada disso.
As técnicas do século XXI são outras.
As mocadas vêm sempre precedidas de palmadinhas nas costas e sorrisos abertos para que o “acertado” nem perceba donde vem a moca.
Viva o marketing.
Tal qual a cobra é hipnotizada pelo tipo de turbante e flauta, muitos camionistas têm sido pelo sorriso aberto e abraço afável.
Só percebem tarde demais, já a moca vem com embalo.
A táctica é rebuscada mas existe e assenta igualmente noutras vertentes.
Uma delas tem sido esvaziar aos poucos o poder dos Condutores-Principais e ir afagando a cabeça de alguns Condutores-Ajudantes, seja através de amizades virtuais, seja através de premiar a tal delação.
Os poucos Condutores-Ajudantes, tolos o suficiente para cair nesta patranha, tal qual morcegos ao meio dia, ficam encadeados pela luz e tudo fazem para retribuir a “Honra” de tal confiança.
Esquecem-se eles que tudo é cíclico...
Assim, aos poucos, os Druidas tentarão formar uma elite de autómatos não pensadores, que apenas obedeçam sem fazer ondas.
Bonito não é?
Seremos a PyongYang das camionetes...sem armas nucleares claro está.
É premiado o seguidismo e o comportamento acéfalo, o que a curto prazo poderá responder às necessidades dos Druidas, mas a longo criará um problema de fundo com gente incapaz de decidir por si e sempre receosa das consequências.
Sabes Amigo, com tudo isto, ando preocupado e também eu tenho medo.
Tenho medo da maldade que sei que reside nas ditaduras de pensamentos.
Tenho medo de ser perseguido mesmo quando a razão me assistir.
Tenho medo de não me conseguir defender apesar da lei me garantir essa defesa.
Tenho medo que continuem a fazer da lei uma palavra vã.
E pior que tudo, muito pior.
Tenho medo que os meus pares, tenham demasiado medo.
Mas depois penso, deixo a emoção de lado e penso, analiso.
Penso no que está mal, tanta coisa está mal, e chego à única conclusão possível.
A saída não é o medo, claro que não é.
Não sou eu que vou ter medo e sabes porquê?
Porque se usam estas tácticas todas, se usam estes sorrisos, se usam velhas amizades para tentar o jogo da antecipação, então afinal não sou eu que ando com medo.
Se somos duas locomotivas no mesmo carril em direcção convergente, porque hei-de ser eu a saltar se tenho menos a perder?
Não, não vou saltar.
Há que mudar a atitude opressora, e se eu saltar, nada muda.
A lei tem de ser cumprida, e o medo escorraçado.
Não pode haver dúvidas quanto a isso.
Enfim, a carta já vai longa, mas não resisto a contar-te mais uma.
Imagina tu que a juntar a isto tudo o pessoal da UPA, extenuado que estava, resolveu que tinha chegado o seu tempo.
No meu egoísmo, levei a mal, senti-me órfão.
Órfão de saber que alguém que se importava, alguém que esteve lá a pensar na melhor maneira de defender a mim e aos meus pares, ia agora embora.
Sei por experiência própria que nem sempre foi assim e que no passado por vezes as agendas pessoais se sobrepuseram a muita coisa durante muito tempo e por isso prezei tanto esta gente que lá esteve.
Poderão ter feito erros? Quem não os faz.
Mas uma certeza eu tenho, não compraram viaturas cheias de "horse-power", não compraram mais assoalhadas, não usaram a UPA para ter mais valias sociais, não se promoveram nos midía, não ingressaram na “Estrutura Cacal” e nunca, nunca me enganaram.
A vida deles a ter mudado foi para pior com mais cansaço, mais azia, mais cabelos brancos ou a falta deles.
Foram honestos, tanto intelectualmente, como humanamente.
Nunca me mentiram, nunca me douraram a pílula, nunca me venderam.
Eu que já tinha sido vendido antes, não o fui desta vez e por isso no meu egoísmo levei-lhes a mal a saída prematura.
Mas compreendo.
Sei que esta segunda vez era a prazo e apenas para finalizar assuntos pendentes.
E ainda bem que os vieram finalizar e implementar, pois com esta falta de honestidade existente, até o Acordo de Cavalheiros assinado estava em perigo.
Por isto tudo, é normal que estejam cansados, tiveram guerras enormes dentro e fora.
Quem não viu o que se conseguiu, nunca verá, ou porque não quer ou porque tem agenda própria ou porque simplesmente não é inteligente.
Para esses nada a fazer.
Quais talibãs de kandahar, estão focados na sua razão e não conseguem ver para além, embora tentem propagar uma imagem de diálogo que não é a deles no intimo.
Deve ser do tal chip rectal...
Sabes Amigo, hoje, cada vez mais me convenço que alguns dos meus pares não merecem.
Não merecem o tempo, o esforço, a dedicação.
Não merecem nada.
Talvez mereçam o medo e viver amarfanhados na sua dignidade.
Mas talvez esteja eu enganado e talvez nem sintam esse amarfanhanço, pois a dignidade infelizmente é um valor variável e porventura a deles estará nivelada por baixo.
Ou é mais uma vez o chip a fazer das suas...
Agora, há que olhar o futuro e pensar no que queremos para nós.
Sem medo.
Existe uma expressão que diz “When you give a gun to a 6 years old, you dont know how is going to end, but you´re pretty sure its going to hit the news.”
É tão verdade.
A UPA é essa "Gun" e tem de ser bem entregue, porque quando se dá poder a quem não está estruturado para isso o resultado não será nunca o melhor.
Por isso nesta altura de mudança, temos de ter muito cuidado nas nossas escolhas, temos de dar poder àqueles que não tenham medo de nos defender, porque de medo estamos todos nós fartos.
A quem queremos nós dar essa "Gun"?
A quem a for usar para afastar as ameaças, ou a quem procura a UPA a todo o custo como uma alavanca para mais qualquer coisa.
A quem pensa na nossa defesa, ou a quem tem reuniões prévias com os Druidas para delinear entendimentos.
A quem trabalha para os camionistas ouvindo os seus anseios, ou a quem tenta boicotar tudo através de mails em cadeia apelando à desunião.
Aliás, para estes últimos, existe inclusive uma expressão no dialecto de Sir William Shakespeare, expressão bastante usada pelo nosso Comendador ,Joe de South Africa, sempre que o irritam.
Sabes qual é não sabes?
O que importa nisto tudo é que da Stasi e dos seus seguidores estamos nós saturados, e é imperativo uma UPA forte, ou corremos o sério risco de acabamos todos a ter que meter o chip.
Com relaxe ou sem ele...
E com esta me despeço, desejando-te boas camionices e quando estiveres por cá liga-me para irmos almoçar.
Um beijo na tua Cecília, na família e nas crianças, a minha aproveita e também manda lembranças.
Um Grande Abraço

Rato

segunda-feira, agosto 30, 2010

The Buffalo Theory

“Uma manada de Búfalos progride sempre ao ritmo do Búfalo mais lento.
Quando a manada está a ser caçada, os mais lentos e fracos são mortos primeiro.
Esta selecção natural é boa para a manada como um todo, uma vez que a velocidade e saúde do grupo melhora com a morte dos mais fracos e lentos.”

Serve a presente teoria, para iniciar hoje mais uma incrível e inverossímil história da camionagem.
Corria a vida na CACA com alguma tranquilidade, advinda muito provavelmente do período estival e do fim do processo negocial em curso.
Qual PREC de outros tempos, também este processo tinha encontrado o seu termo.
Um Acordo de Cavalheiros tinha sido firmado.
Uma calma aparente reinava.
As lutas recentes estavam menos acesas.
O tal Acordo, entre a CACA e a UPA tinha finalmente terminado e surpresa das surpresas, nem a CACA fechou, nem o povo saiu à rua.
Os Kuanzas aumentaram e muita da rapaziada andava mais feliz.
Afinal eram muitos Kuanzas a mais.
Não para todos é certo.
Uns havia que nunca estavam felizes.
Lembram-se dos Contristas, grupo mal disposto e azedo, já falado anteriormente?
Continuavam vivos.
Alive and kickin, como na música.
Embora os tempos fossem de crise, falências e malandros vários, a UPA conseguira um acordo que dava mais Kuanzas e mais descanso aos camionistas.
Uma vez que nada tinha sido conseguido durante os 10 anos de vacas gorditas, agora para recuperar alguma dignidade, algumas concessões tinham sido feitas.
Não muitas é certo, e bem menores do que se falava, mas mesmo assim suficientes para esta rapaziada se agarrar e tentar denegrir o trabalho alheio.
E porquê, perguntam os amigos ouvintes.
Bem, é fácil explicar.
O tal Acordo de Cavalheiros era mais simpático para quem trabalhasse e isso não entrava nos planos de algum pessoal camionista.
Para quem fizesse 15 a 20 viagens por mês, era fabuloso, agora para quem usasse 3 ou 4 dias do mês para trabalho e o resto para devaneios do bronze, aí não não tinha tanta graça realmente.
Que maldade...
Os Contristas não gostaram e viram aí mais uma oportunidade de achincalhamento.
Estavam habituados a ser donos da UPA e a fazer os Acordos à sua medida e agora, viam a coisa negociada de forma menos compensatória para eles
Nem queriam acreditar.
As voltas que a vida dava.
Está tudo a saque era conclusão a tirar.
Sacanas dos putos pá, com a mania das mudanças.
Eles que tanto tinham feito para rapidamente chegar à camionagem das 18 rodas e agora este balde de água gelada.
Uns havia que já faziam 3, imaginem, 3 viagens mensais de camionete.
Andavam estourados e poucos Kuanzas veriam a mais?
Que não podia ser, isto era uma farsa.
O que fazer pensaram?
Simples, a mesma fórmula de sempre.
Vai de distribuir mais teorias sobre o Continhas, o seu plano maquiavélico e o fadinho do costume.
Não pagar o devido ao Continhas era agora o mote do tal fadinho e para fados destes, mais vale trazerem um caldo verde a acompanhar, que senão ninguém engole.
O caldo verde não veio mas isso não os deteve.
A teoria mais espectacular dizia que, ao ler o tal Acordo de Cavalheiros de trás para a frente, descobriríamos um canto satânico, com mensagens subliminares de domínio do mundo e incitamentos à desordem e ao caos.
As restantes teorias e motivos para o não pagamento do serviço prestado eram menos engraçadas e mais terrenas, embora todas elas com a dose de manhozisse habitual e a cara de pau própria dos vigaristas de beira de estrada.
Uma delas, oriunda de um rapaz com grandes dificuldades de processamento de metanol, tentava transmitir, que a coisa ia ser pior, muito pior.
E ele fazia contas, e que contas...
O nosso Sponge Bob assentava a sua fabulosa teoria no facto de no antigamente poder fazer umas viagens extra que eram pagas à parte e agora ia deixar de as poder fazer, pois o tal acordo não o permitiria.
Cortava-lhe as pernas.
A ele e a mais meia dúzia de espertalhões.
Ou seja, um bónus que decorria de irregularidades da operação das camionetes era agora visto como uma realidade inquestionável a ser ponderada e negociada em Acordo de Cavalheiros.
Ora toda a gente sabe que Cavalheiros não discutem irregularidades e como tal não se punha a questão.
Cavalheirices...
Aquela velha máxima de contar com o ovo na cloaca do galináceo e mamar à conta da falta de condutores, ganhava nova vida nas palavras deste nosso amigo.
Para quem no passado excomungava os mamões, exigia rectidão e apregoava os malefícios da condução em dias de descanso, não está mal. Não está não senhor.
E tanto repetia as atrocidades por mensagens e circulares, que alguns incautos o tomavam por sábio...
Mudam-se os tempos, aumenta a despesa e já se sabe, as vontades vão atrás.
Falando em despesa, igualmente ninguém tinha percebido o que teria motivado no passado, o aparecimento de um panfleto revolucionário, da autoria deste nosso amigo, incitando à desobediência civil através da mentiras e distorções.
Nem o motivo, nem o patrocínio, sim que aquilo foi carote.
Dizia-se que teria sido patrocinado pelo Lone Ranger, de quem este nosso amigo seria um acólito fervoroso, mas não há provas.
Outros diziam que a origem e patrocínio teriam outras origens.
Uma certeza existe, não existem almoços grátis e alguém pagou, que isto é como os Fellatios, ninguém os faz, ninguém os faz, mas eles aparecem feitos.
O tal panfleto não vingou é certo, mas foi mais uma na fogueira em que se queria imolar o tal Acordo de Cavalheiros e todos os camionistas por arrasto.
Só foi bom para um dos lados.
Adivinham qual?
Entretanto para realçar o nível de cavalheirismo do grupelho, começara a correr uma petição na rede, encabeçada por outro sábio, em que se tentava incitar ao não pagamento do Continhas e juntar o maior número possível de manhosos.
Este sábio, admitia na tal mensagem, só avançar com a petição no caso de ter caloteiros suficientes a apoiá-lo, caso contrário não sairia da toca, fazendo tábua rasa da democracia e do decidido em assembleia magna da UPA.
Mas havia mais um grupo para quem este acordo tinha trazido pouco.
Grupo de gente ligada à estrutura CACAL, era a rapaziada detentora de secretárias de 4 pernas.
Maior parte deles, gente boa, mas que vivia acomodada àqueles Kuanzas a mais, que tanto jeito dão a partir do dia 20 de cada mês.
Sim que isto com o Euro está tudo caríssimo.
Para esses pouco compensava, porque lá está o tal problema, era bom, mas para quem trabalhasse.
Não iriam perder, mas viam o fosso de Kuanzas que os distanciava da ralé a diminuir.
Causava confusão a alguns, que prontamente acusavam a UPA de falta de rectidão e de só querer o mal da CACA.
Ai tanto que nós defendemos a CACA...
Esqueciam-se porém, que também eles eram funcionários CACAIS e que as secretárias de 4 pernas não seriam eternas.
Um dia destes, quando voltassem às lides camionistícas, desfrutariam igualmente dos benefícios, mas lá está, uns havia que não se davam conta do efémero do cargo e como tal não compreendiam as vantagens a longo prazo.
Não deixava de ser irónico ver tanta virtude e posições anti-Acordo de Cavalheiros propagada por estes arautos da decência.
Realmente havia que ter em conta que era gente mais sábia, e isso via-se nas conquistas já alcançadas.
E não falamos de gabinetes, que esses são entregues e tirados ao sabor de outros ventos.
Falamos sim daquelas conquistas da vida, aquelas palpáveis e reconhecidas publicamente.
Que dizer da decência dos que, além de acumular os Kuanzas inerentes às funções secretariais, acumulavam ainda reformas politicas aos 30 anos por serviços prestados à Pátria, cargos de ensino das artes camionistas a iniciantes e muito, muito mais.
Reconheçamos que é necessário muita sapiência para tal acumulação de Kuanzas num país à beira do colapso e talvez essa acumulação explique muita coisa.
Havia quem dissesse que muito tinha sido obtido através de esquemas malandrecos e que era uma vergonha, mas decerto seria apenas a inveja a falar mais alto...
Aos tais acumuladores de riqueza, realmente não fariam falta os Kuanzazitos a mais, mas aos restantes camionistas, aqueles de carne e osso, das camionetes às 3 da manhã, para esses era um mimo muito bem vindo.
Os nossos amigos acumuladores, bem tentaram tomar as dores da CACA, esquecendo-se da sua ocupação principal e alertando os restantes camionistas para os problemas do país.
Não há Kuanzas, o país de tanga e esta canalha a querer mais e mais.
Que falta de patriotismo gritavam.
O tal patriotismo das reformas aos 30...
Além do mais, falando em carne e osso, agora sempre que a coisa se iniciasse as 3 da manhã, uma certeza os condutores teriam.
Iriam para casa bater uma soneca logo à chegada à pátria.
Não haveriam mais viagens em catadupa, não haveria mais acordar às 3 da madrugada e só chegar ao lar às 15h sem saber se a viagem foi pela auto-estrada ou pela nacional pois o cérebro já vinha em “off mode” e com meio olho aberto.
Agora que estava a coisa preto no branco, era mais difícil negar as evidências.
Afinal ninguém tinha trocado Kuanzas por trabalho.
O embuste ou a tentativa dele, caía por terra.
Os Kuanzas eram mais, bem mais, e se houvesse vontade por parte dos camionistas na exigência dos seus direitos, os tempos de repouso igualmente seriam maiores e mais bem distribuídos.
Sim, porque já depois de assinado o Acordo eis que vem à baila o problema dos dias de repouso.
A UPA, como era sua obrigação, acautelou os tempos de repouso dos camionistas.
Para isso, propôs uma contagem diferente dos dias de trabalho e a CACA aceitou.
Com base nessa premissa outras cedências foram feitas.
Então não é que agora a CACA vinha dizer que afinal, tinha visto mal e não era aquilo que pretendia.
Ui, que feio.
Assinou, recebeu à troca benefícios e não gostando do resultado, eis que tenta voltar com a palavra atrás.
Não é coisa de Cavalheiros, lá isso não é e obrigou a UPA a fazer um quadro em que explicava como os camionistas deveriam fazer as contas e não sair lesados.
Papinha toda feita...
Sim, porque não tenham dúvidas que se não forem os próprios a zelar por si, acabam a conduzir camiões à troca de uma taça de arroz. Seco.
Quanto ao mais trabalho por Kuanzas, mesmo a ser verdade que se pudesse vir a trabalhar um pouco mais, não era essa a ideia quando se veio para a CACA?
Ou o contrato explicitava que os Kuanzas eram à troca por dias na praia?
Se assim for, agradeço uma cópia para enviar aos muitos que andam enganados...
Talvez andassem todos enganados e o trabalho não fosse o objectivo do camionista.
O que importa é que mais uma vez, como no passado, uma mentira repetida muitas vezes, quase que passou a verdade.
Esta não passou e o Acordo de Cavalheiros lá saiu.
O Acordo existe e é forte.
Se não saiu mais forte, não culpem a UPA meus amigos.
Devem-no sim, aos “Patriotas” de serviço que com cartas ameaçadoras, campanhas de desinformação, conversinha mole e manhozisse de vendedor de elixir, tudo fizeram para que nada se alterasse.
O Acordo está vivo e na vida só existem 2 formas de morrer.
De morte matada ou de morte morrida.
Este Acordo, por ser de Cavalheiros, quanto à morte morrida está blindado de modo que só poderá morrer de morte matada.
Matada pelos próprios camionistas ao não exigirem aquilo que é seu.
Ou querem ir ao ritmo dos Búfalos que se deixam matar?


Nota do Autor:
Tal qual a manada de Búfalos, assim funciona o cérebro humano, que só consegue operar ao ritmo das células mais lentas.
O álcool como sabemos, mata as células cerebrais, atacando primeiro as mais fracas.
Deste modo, o consumo regular de álcool ao eliminar as mais fracas e lentas, torna o cérebro mais ágil e eficiente.
E é essa a razão por que alguns camionistas se sentem mais inteligentes depois de beber uns canecos...”

sábado, agosto 14, 2010

Cabo escondido com rabo de fora

You'll always miss 100% of the shots you don´t take.

Pois é Amigos Ouvintes, sempre na tentativa da internacionalização, eis que iniciamos hoje mais uma crónica da camionagem, e desta feita com uma sábia frase na língua de Shakespeare e Allan Poe, frase essa que ilustra bem o actual momento vivido na CABO.
Já tinham saudades da CABO, confessem.
A CABO, Cabine Associada e Bem Organizada, tinha por objectivo, tal como referido numa antiga crónica, o seguinte:
"Defender o pessoal trabalhador das cabines das camionetes"....
Irónico não é?
Defender.....Bem, os últimos tempos pareciam não dar razão a esta frase mas já lá vamos.
Na realidade, a dita associação vinha vivendo uma situação estranha, não nos últimos tempos mas sim, nos últimos anos.
Era problema que já vinha de longe.
Os donos daquilo, sim que entretanto havia uma rapaziada que se tinha tornado dona, não queriam largar o poleirito nem por nada.
Gostavam da coisa, afinal ser dono de uma associação que mexe em tantos Kuanzas dá sempre alegria a quem os controla e passados tantos anos a viver das benesses de contribuições alheias, a dificuldade em voltar à vida real, era coisa difícil de encarar.
Passar a pagar os próprios almoços, levantar cedo, e todas essas coisas chatas da vida corriqueira.
Tal como aquele rapazola olímpico, eram assim os donos da CABO.
De manhã só na caminha, que isto de andar de trouxa às costas, metido em camionetes pra trás e prá frente é coisinha para não dar saúde a ninguém.
Além do mais, havia aquele pormenor chato que acontece nessas viagens camionísticas, aquele que depois nos dão Kuanzas ao fim do mês, como se chama aquilo?
Que raio, pensavam eles, já foi à tanto tempo que nem me lembro.
Já sei, gritou um mais lúcido, trabalho, é trabalho essa coisa dos Kuanzas.
Ah pois é, tens razão.
Opá, isso é que não, há que manter isto a todo o custo, temos mesmo que segurar este barco que já não tenho saúde pra mais.
Não tinham mesmo.
Se assim o pensaram, melhor o executaram.
Quando ameaçados numa contenda eleitoral recente e vendo que a realidade poderia ser amarga, reuniram pessoal velhote, pessoal de fora, pessoal sem orientação e orientaram-se...
Lá levaram de vencida a rapaziada desafiante.
Por escasso votos é certo, mas a democracia é assim mesmo, nem que fosse por um.
Conseguiram passar a mensagem que os outros eram muito novitos, sem experiência e por isso, neste momento tão grave da vida mundial, havia que manter à frente do barco alguém com experiência comprovada.
Lá comprovada ela estava sem dúvida...
Aliás em termos de coisas comprovadas poderíamos aqui lembrar grandes personagens da história mundial que comprovaram tudo e não deixaram dúvidas.
E tudo rapazes simpáticos...
Ganha que foi a contenda, deu-se então inicio à operação de charme.
Eu explico.
No passado, a CABO tinha contratado o Continhas para ajudar ao melhoramento das condições de vida da meninada.
Mas isso era coisa do passado.
Aproveitando o facto de haver alguma desconfiança em relação à personagem, e numa inflexão que já vinha sendo usual, eis que resolvem denunciar o contrato.
Acabou-se o Continhas, em troca do favor CACAL que aí vinha.
Alguns rejubilaram, pois para as mentes pequeninas, um Condutor metido nisto, de certeza que não era bom negócio.
Mentes tão pequeninas que não conseguem ver para além do seu quintal, sempre foi uma característica nacional.
O Continhas aceitou, saiu pela porta por onde tinha sido convidado a entrar e dedicou-se em exclusivo à UPA onde num momento do mundo em que até os de Goa já olham para as vacas e começam a salivar, conseguiu o que outros não conseguiram quando as mesmas eram gordas.
Contas de outro rosário...
Claro que, qual teoria do caos, nada acontece por acaso e eis que de rompante a CACA se apressa a entregar uns Kuanzazitos que estavam devedores em relação a trabalhinhos passados.
Uma mão lava a outra, já diz o ditado e naquela fase, Continhas fora era imperativo para a CACA.
Trocou-se assim, a possibilidade de um acordo sólido, bem estruturado para o longo prazo e que traria melhorias substanciais à qualidade de vida, por uns Kuanzas que já a todos pertenciam e que acabariam por vir, mais cedo ou mais tarde.
A miudagem galhofeira, ganhou folga na carteira de imediato e assim a compra daquele LCD de 42", de cores vivas, cantos quadrados e super motion HD passou a ser uma realidade.
Já o corpo director ganhou aquele campozinho de manobra que tanto jeito dá, um balãozito de oxigénio por mais uns meses, que vamos empurrando com a barriga e logo se vê.
E viu-se.
Parafraseando os políticos da Pátria, eis que vamos começar a dar o dito pelo não dito que ninguém nota.
Mas a miudagem não é tola e os LCD, são como aquela namorada nova, ao fim de 3 meses, já não é a mesma coisa de modo que, queriam mais qualquer coisa, porque afinal, os Kuanzas já eram passado, e isto do vil metal já se sabe, vai-se num instante que até dói.
Já ninguém se lembrava dos Kuanzas e agora queriam melhores noites e mais lazer.
Seria possível?
Entretanto, o verão estava ao rubro e claro, mercê do bom planeamento, a miudagem não chegava para as encomendas.
Ninguém esperava este aumento de frequência das camionetes, afinal andamos nisto há pouco tempo e tal...
Com miudagem a menos, as camionetes andavam sem graça, os cliente com fome, enfim, um Deus nos acuda, que as altas temperaturas do deserto só vinham acentuar.
Os donos da CABO, habituados a jogos baixos resolvem fechar um brilhante acordo com a CACA .
Mudar-se-iam as regras para acomodar as faltas gritantes, e a partir de agora poriam o ónus em cima do mais fraco.
O Chefe da miudagem passaria a ser o culpado e não se falava mais nisso.
Bonito sim senhor.
E Rezava assim.
Antes ninguém comia, mas se houvesse boa vontade e por especial favor, a coisa até se arranjava.
Excepcionalmente claro está.
Com o novo acordo seria mais engraçado.
Comer era sempre, que isto é um restaurante sobre rodas, mas se houvesse uma Excepcional má-vontade por parte do elo mais fraco, então não havia comezaina.
Ninguém o açoitaria, mas seria sempre um malandrim.
Claro que os clientes iriam adorar saber que a fomeca não era à conta da má planificação, mas sim da má vontade daquele energúmeno que ganha milhões, farta-se de passear e não faz nenhum.
Brilhante, passamos o peso para aqueles que lá andam e fazemos um figurão com os da CACA a quem devemos tudo e que tem sido tão bons para nós.
Nós, que até deveríamos ser o defensor da rapaziada, mas isso agora não interessa nada e não dá jeito nenhum.
Acordo assinado, havia que defendê-lo junto dos pasquins de opinião e assim foi feito, demonstrando aquela total falta de tino que já vinha sendo hábito.
Que sim, que dava, era perfeitamente exequível e que só por falta de vontade não aconteceria.
E para que o ramalhete fosse completo, de bónus, a CACA na sua magnitude ainda dobraria os Kuanzas sempre que fosse executada a tarefa.
Olha a cenourinha....olha olha......
Enfim, uma bela maneira de mostrar que tudo tem um preço, e tentar deitar por terra outros argumentos.
Só que o povo não gostou.
O povo não gostou de sentir que estava a ser vendido, com etiqueta de "Rebajas" e tudo, nem o povo, nem alguns da cúpula, que estando fartos dos flip-flops da chefe-mor resolvem partir para outras actividades, que não incluíssem o achincalhamento dos seus iguais.
Rebates de consciência.
Isto tudo a poucos dias de uma sessão explicativa sobre o assunto.
Catita, muito catita mesmo.
Catita e demonstrando largamente o porquê do carinhoso apelido de silly season com que é designada esta quadra festiva.
A chefe-mor, a ver o chão a fugir, tal qual um dançarino de tango no meio de um terramoto, eis que numa jogada de génio, vem defender o contrário do dia anterior.
Mais um flip-flop de circo, a lembrar um elefante bêbado numa loja de porcelanas.
Que não, não era pra aceitar nada, que afinal aquilo que até tinha sido negociado por ela, não era a sério.
Estava a brincar, era a gozar, vá lá, não levaram a sério pois não?
Felizmente a rapaziada tinha levado e começava a perceber que com estes, já não ia a lado nenhum.
Mais vale tarde acordar, que sempre sonhar.
Mais do mesmo e muitos flip-flops, não obrigado.
Começou a reunir-se e a delinear estratégias.
As redes sociais, essa praga do século XXI abarrotadas de denúncias e raiva acumuladas.
Uns defendiam uma mudança imediata e uma ruptura total com este passado.
Outros mais radicais, a forca e o apedrejamento em praça pública.
Alguns, pouco é certo, por incapacidade de visão, comodismo ou genes de burrico, diziam que às tantas era melhor deixar estes acabar, que mais baixo, isto já não ia.
Será que não, vai uma apostinha?
Quando se deixa tudo na mesma o resultado nunca tende a melhorar.
Por isto tudo a pergunta que fica no ar é, depois de gorada a chance de mudança num passado recente, a quanto mais se está disposto?
Sem dúvida que, “You'll always miss 100% of the shots you don´t take”.

sexta-feira, julho 23, 2010

As Tristes Aventuras do Pilha Galinhas

Todos nós na nossa vida já conhecemos alguém que arvorado em malandreco tenta trapacear os outros.
A historieta que vos trazemos hoje, fala-nos de um personagem que querendo ser um Dillinger da camionagem, não passou dum Zé do Telhado manhozito.
Palavras para quê, é um artista português.
Não acreditam?
Então, tal como na música daqueles rapazes cabeludos, Here we go again.
Inicia-se à muito muito tempo, nas artes da camionagem um rapaz de leve ascendência germânica e modos rudes.
Alma de caserna, escolheu como melhor caminho, a vida castrense e aí vai ele pelo mundo fora, bivaque enterrado, calças subidas, desbravando novos mundos.
Tropelias mil, piruetas várias, sempre vivendo a adrenalina de velocidades estonteantes...
Um dia, já cansado da vida de caserna resolve dar o salto.
E se fosse para a CACA?
Ouvi dizer que lá eles pagam bem, tem moças bonitas e comida farta.
E eu que gosto tanto de comer. Até me lambuzo todo.
Ui que é mesmo isso.
Mas a mudança, implicaria deixar para trás muita coisa que gostava e iria levá-lo para longe das camionetes mais pequenitas onde além de condutor, sempre dava uma perninha na manutenção das ditas.
Pensou, pensou.
Era difícil a decisão, o óleo chamava-o, mas a ração na CACA era melhor e lá está, gostava tanto de comer...
Com o tempo arranjaria um esquema que pudesse aliar a comezaina farta com a actividade anterior de quebra-galhos das camionetes.
Da vida de ajudante pouco se sabe.
Sempre se manteve à margem de qualquer polémica.
Concordava com tudo, mesmo quando não, sempre vendo o pendor da maioria.
Era mais cómodo, ninguém dava por ele e ia assim levando a sua caminonete a bom porto.
Talvez devido à sua pose, talvez devido à ascendência diferente, sempre se sentiu um ser especial.
Achava que tinha bebido mais chá (lá está o tal sintoma recorrente), que a maioria dos humanos e por isso era rápido a julgar, pois sabia o que valia na comparação.
Seria assim?
Passado um tempo como Condutor-Ajudante, eis que a CACA, resolve alavancar o rapaz ao posto principal.
Epá, tão bom que vai ser.
Agora é que ninguém me agarra, vou ser sempre o primeiro a escolher.
Gosto tanto, que até me lambuzo.
Lá iniciou a sua vida de Condutor-Principal, sem grandes desvarios.
Dava pouco nas vistas, mas dizia quem o conhecia que não era bem assim.
Que era um artista, e não estavam a falar propriamente ao nível duma Paula Rego.
Era um seguidor da maioria diziam, pois não tinha muita coragem de pensar por si.
Que não era muito polido diziam outros.
O que é certo é que a vida ia avançando.
Tudo corria bem, até que um dia, vai com a sua camionete a um país tropical e eis que a coisa azeda.
Motor partido, radiador empenado, fumo por todo o lado, óleo a esguichar e uma data de problemas que só os formados nas artes da mecânica são capazes de resolver, certo?
Errado, claro que está errado.
O nosso amigo tinha tirado um daqueles cursos por correspondência de mecânica em 10 lições e de parafusos percebia ele.
Ele, que até em tempos tinha arranjado uma torradeira com mau contacto e poupado um dinheirão.
Desde essa altura o pãozinho de manhã parecia outro.
Não, não, qual mecânico qual quê.
Alguém me arranje 1 chave inglesa, um martelo, um tubinho de silicone, 2 abraçadeiras, um bocado de borracha e abram alas faz favor, que eu tenho um motor a reparar.
Depois da torradeira, era o passo lógico...
Desce da cabine e eis que de martelo na mão, óculos ray-ban “vintage”, empoleirado num escadote e rodeado dos indígenas, dá inicio à “Operação Carcaça”.
O nome da operação nunca ninguém entendeu bem, mas já se sabe, com a relação que o nosso amigo mantinha com a comida, já muita sorte foi não se ter chamado “Operação Toucinho”.
E em que consistia a dita operação, perguntam os meus Amigos Ouvintes.
Ora bem, consistia em munido das ferramentas acima descritas, fazer-se desaparecer dentro do motor da camionete, tal como os domadores do circo quando enfiam a cabeça nos leões.
Só que os motores não mordem...
Now you see me, now you don´t, que já me enfiei até ao pescoço.
Felizmente para quem gosta de uma boa galhofa, há sempre um fotógrafo por perto quando estamos a fazer disparates e aquele dia não foi excepção.
Pumba, toma lá com primeiras páginas dos periódicos.
Lindo de ver e que bem que ficaram aqueles Ray Ban na fotografia publicada. Caixinha inclusive.
A coisa lá se compôs com a chegada de profissionais e lá conseguiu regressar à pátria lusa mais a camionete reparada.
Havia sido vencido, mas isto não ficaria assim.
Entretanto, havia que tirar rendimento ao tal curso de mudança de óleo por correspondência.
O que vou fazer para maximizar isto, pensou.
Já sei, uma vez que “vintage” é a minha praia, vou juntar o útil ao agradável.
Formou então uma empresa em que restauraria camionetes antigas pequeninas, e as poria novas a brilhar.
Teria chance de aliar as duas paixões, o óleo e as camionetes de bolso.
Fantástico.
Assim nasceu a GAMAR
Grupo dos Amigos da Manutenção Alternativa e Reconstrutora.
A GAMAR tinha algumas particularidades engraçadas.
Começava pela composição da dita cuja.
Presidente, claro, tinha de ser o nosso amigo porque até aí, presidente só mesmo da rua dele e a rua não era grande, por isso havia que ser de mais qualquer coisa.
O segundo posto mais importante já se sabe é aquele dos Kuanzas, o tipo que os controla.
Controlas o tipo dos Kuanzas controlas tudo.
O tipo tinha de ser de confiança, logo quem melhor do que um familiar muito próximo para tesoureiro.
Assim foi.
Agora com o Pilha-Galinhas a presidente e a família na tesouraria, havia que dar inicio à recolha de fundos.
Dirigiu-se então às grandes empresas nacionais e.....
Estava a brincar, peço desculpa.
Que sitio melhor para “recolher” fundos que junto dos nossos, daqueles que ainda vão acreditando em nós e nos dando algum crédito.
Assim foi.
Nas viagens mais longas, depois da comezaina habitual, em tom ameno iniciava com os Condutores-Ajudantes a conversa da GAMAR, espraiando toda a sua técnica de vendedor de colchões ortopédicos, daqueles mesmo bons e tal.
A conversa decorria nos seguintes moldes.
Ora bem, o amigo dá agora uma contribuição e fica sócio da GAMAR.
Uau a sério? E depois e depois, perguntavam os Condutores-Ajudantes.
Bom, depois como a sua quota será para ajudar à recuperação das camionetes, assim que a dita esteja pronta pra rolar, o amigo terá a espectacular oportunidade de se sentar aos comando de tão ilustre máquina, onde poderá tirar umas fotografias para mais tarde recordar e impressionar as fêmeas.
Terá ainda chance de fazer umas milhas com a dita máquina, impressionando igualmente os basbaques circundantes.
Que lhe parece hã?
Olhe que oportunidades destas não aparecem todos os dias.
E se decidir agora, fica ainda habilitado a um fabuloso trem de cozinha, daqueles com pegas de borracha e em que a comida não pega ao tacho.
Uso desses lá em casa e olhe que gosto muito.
Então, vai ou não vai uma contribuiçãozinha?
Um esquema assim tipo Banco Privado, mas em pequenino e com óleo à mistura.
A rapaziada, uns por cansaço, outros porque sentiam o peso da autoridade, outros só para o calar e outros por pura ingenuidade, lá iam contribuindo.
Sempre na esperança de um dia se porem aos comandos do tal Xaveco velho.
O tempo foi passando, os Kuanzas rolando, mas do Xaveco em recuperação, notícias nada.
A rapaziada come e cala, de modo que lá perceberam que tinham contribuído para o hobbie do artista, comeram e seguiram em frente.
É sempre assim com os malandros, são os credores que ficam sempre sem jeito.
Longa vida ao cobrador do fraque.
A vida corria, até que um dia dá-se um caso de fuga de informação a nível mundial, coisas da segurança nacional, questão já abordada num texto passado.
Sem ter nada para fazer, pois o óleo estava em falta, eis que o nosso amigo resolve meter a sua foicezita em seara alheia.
Armando-se em defensor dos bons costumes e sem ter nada a ver com o caso, resolve que vai brilhar.
Pensou, então se a maioria está a bater, eu se bater mais, fico aqui com uma pintarola de herói que vai ser um sucesso.
Ui se os da minha rua me vissem agora...
Dando asas à pena, eis que solta um texto pouco simpático a respeito de alguns colegas.
Incrivelmente, muito gente dizia, ah vem desse, claro, mas esse....e calavam-se como que se fosse uma certeza a sua vacuidade mental.
Tal como naquela terceira lei do rapaz da maçã, também isto gerou reacções, reacções essas que vieram na forma de duas missivas.
Com a primeira, ficámos todos a saber o nível de coragem do nosso Pilha-Galinhas.
É que apesar de ter usufruído da presença de um dos visados durante dois dias, pouco tempo antes, nada fez para descortinar a história, preferindo a lavagem na praça pública.
A coragem varia sempre na razão inversa da distância....
Coragem 0 – Cagufa 1
Depois, bem, depois eis que surge na praça a segunda reacção.
Já por muitos considerado o melhor manual jamais escrito de “Como acabar com um Pilha-Galinhas”.
A ser editado em livro no futuro ou quem sabe algo mais.
Surge em forma de missiva particular, mas já se sabe, se até o Aníbal eles escutam, era agora a missiva que ia ser particular...
Numa linguagem simples, directa e pontiaguda, são descritas com exactidão e sem rodeios todas as actividades malandrecas do nosso Pilha-Galinhas.
Um fartote de boa disposição, roubos de mercearia e afins.
Ficámos a saber igualmente da existência de uma rua em que todos os rapazes são baixotes e outros tesouros, que nunca serão esquecidos.
Tudo isto patrocinado por aquela empresa do Sr. Kamprad, aquela dos moveis em puzzle e espelhos baratos.
Baratissimos.
O nosso Pilha-Galinhas que se saiba nunca respondeu às missivas enviadas.
Lá está, Coragem 0 – Cagufa 2
Ainda assim, conta-se que terá ficado a fazer festas ao ar, num incidente recente que já corre à boca solta.
Presenciado por muitos, tem sido motivo de risota contida nas instalações da CACA.
Por isso amigos, em jeito de despedida vos digo.
Guardem as galinhas, apliquem os Kuanzas em cerveja e esqueçam as contribuições passadas que essas, já eram.

domingo, julho 11, 2010

As Ceroulas do Capitão Galvão

“Não te esqueças meu Manholas, que eu já te vi em ceroulas”.

Os Amigos ouvintes, poderão achar esta frase brejeira e popularucha.
Têm razão.
É tudo isso, mas é igualmente verdadeira.
A frase, nascida nos anos 50 numa carta aberta, escrita pelo Capitão Henrique Galvão, ao então todo poderoso chefe da banda, que governava este rectângulo, servirá hoje de mote às três curtas histórias que vos vamos contar.
Os personagens retratados, pela sua menor importância, não ajudam à sátira.
Já a tentativa de se fazerem grandes, é cómica e galhofeira.
Por essas razões não quisemos deixá-los de fora desta odisseia camionistica, uma vez que em qualquer odisseia existem sempre personagens menores, para compor o enredo.
Vamos a isso então, numa jornada pelo baú da desgraça.
A primeira história acontece no ano da graça de 2008, e asseguro-vos que nos deu bastante trabalho de investigação.
Fala-nos de um simpático e educado Condutor-Ajudante, que vai de viagem à terra natal, visitar os sogros e apresentar o seu mais novo rebento, ainda com poucos meses de vida, à família insular.
A dita terra natal, um complexo de nove ilhas perdidas no meio do oceano, onde reza a lenda existiu outrora a civilização perdida da Atlântida.
Aqueles que se lembram do Patrick Duffy e as suas guelras, sabem do que estou a falar.
Adiante.
Acompanhado da sua cara-metade e do recente rebento, preparam tudo com aquela alegria própria de quem vai rever os seus e leva em mãos a mais bela das pérolas para apresentar.
Acordam cedinho, preparam as coisas e dirigem-se ao local de despacho das camionetes.
Chegados lá, eis que o nosso amigo se depara então com a falta do Condutor-Principal, que devido aos inúmeros afazeres, não havia ainda comparecido.
Coisas do trânsito.
O tempo passava e não havia maneira de surgir o dito Condutor.
Tic-tac, Tic-tac, Tic-tac...
Para quem já viajou nas camionetes, sabe bem o tempo que demora a fazer o dito circuito de segurança.
Se já era mau, com aquela mania dos barbudos kamikazes se atirarem contra os prédios, ficou pior.
Uma vez que necessitava de ajudar a jovem mulher com todo o aparato de bibereons, fraldas e afins, eis que o nosso amigo têm a ideia óbvia de deixar um recado com o Condutor-Ajudante, que se prontifica a entregar a missiva ao todo poderoso assim que este chegasse.
Parece lógico não é?
Esperem.
Precisava de um “Amiguinho” era o recado a dar.
O “Amiguinho”, para quem não conhece, baseia-se numa gentileza que a CACA criou em parceria com a UPA para que os condutores se ajudassem uns aos outros.
Alguns condutores no entanto não entendiam que aquilo não era bem deles e que a ideia é facilitar a vida dos colegas, a menos que haja motivo muito forte em contrário.
Então se eu sou dono da Camionete agora não ia ser dono do “Amiguinho” pensavam alguns.
Pois, mas a verdade é que os Condutores-Principais, são apenas gestores dos recursos da CACA e como tal donos de um grande nada, não se devendo deixar influenciar pelos traumas passados, más noites de sono ou vidas sexuais sem sentido.
É difícil compreender? Irra...
Continuando.
O nosso amigo segue para o terminal das Camionetes.
Malas pra um lado, carrinho de bebé pra outro, apalpações várias, a dança das fraldas, choricos pelo meio e lá chega a nossa simpática família a bordo da majestosa camionete pesada.
Lá chegado, querendo agradecer a simpatia, dirige-se à cabine de condução e inicia o beija-mão.
Mal feito foi.
Quem voxelência pensa que é.
Deixa recados como se me conhecesse.
Andámos juntos na escola?
Isto é uma vergonha sem precedentes, você é um mal educado, está-se mesmo a ver a falta de chá.
Normalmente estes “senhores” acham que tomaram muito mais do que os restantes humanos, é um sintoma aliás recorrente.
Maneiras de ver o mundo.
O nosso amigo ainda tenta desculpar-se, dizendo que não, nunca quis faltar ao respeito ao todo poderoso e tal, mas tinha de ajudar a mulher a fazer o circuito das apalpações, com o bebé novito mais a dança dos biberons e uma vez que o Grande Chefe se tinha atrasado, não pôde ficar à espera de sua eminência.
Bom, que isso não era assim, que antes é que era, que isto anda a saque, qualquer dia defecam-nos em cima e os traumitas todos a aflorarem à epiderme.
Para a próxima espera e mais nada, mas vá, ponha-se a mexer e que não volte a acontecer.
Ia o nosso Condutor a abandonar a cabine de condução cabisbaixo quando:
Ouça lá e já agora, com que tarifa rodoviária o senhor se apresentou a bordo?
Ora bem, com a tarifa “Amiguinho” claro.
Mas eu não dei “Amiguinho” nenhum.
Sua Eminência peço desculpa mas a mim na porta de entrada foi o que me deram e foi assim que entrei.
Ai é, muito me conta então, mas não tem problema.
Tal como entrou, daqui se vai apear.
Pegando no trompete real, manda chamar um rapaz terráqueo que carinhosamente escolta o nosso amigo para fora da Camionete.
Reparem bem na beleza do filme.
Um autocarro desloca-se de propósito à camionete, com um terráqueo para escoltar um futuro Condutor-Principal para fora da Camionete.
Belo espectáculo para quem viu de fora, uma história hilariante para ser contada durante as pausas pra café e decerto uma experiência espectacular para um jovem pai que vê aqueles que mais ama a ficarem desamparados da sua ajuda e presença.
Os da CABO sem saberem o que dizer, encavacados com a situação, a verem um colega a ser posto no olho da rua.
A cara metade e o rebento, lá seguiram sozinhos, até a ilha de onde eram originários.
Sozinhos, mãe e filho de meses.
O nosso amigo, incrédulo e abatido, seguiu à tarde numa camionete mais pequena, Camionete essa que fazia igualmente o percurso e onde foi bem recebido por todos os colegas.
Chegou tarde mas chegou, tendo-se reunido com a família ao final do dia, onde tentou esclarecer que não era aquele bocado de cócó que quiseram que ele parecesse.
Não se sabe se eles acreditaram, mas que ficaram enquadrados, lá isso não há dúvidas e o bebé nunca mais repete a graça.
Dói sempre muito mais quando estamos com os nossos.
Toda esta moral, vinda de um rapaz que em tempos passados e aproveitando as suas ligações à UPA, conseguiu atribuir a um familiar muito chegado, a exploração da cantina de serviço da dita associação.
Uma outra história, que talvez venha a ser contada, a fazer lembrar aquele major da Guiné, que roubava nas batatas.
E quem o ouve, não o manda prender.
Eu tambêm não mandaria...
O segundo caso, mais engraçado devido a toda a envolvente, fala-nos de um rapaz com um mau barbeiro.
Já se sabe, tal como a caixa de chocolates do Forrest, assim são os barbeiros.
Nunca sabemos o que vai dar, até o serviço estar acabado, mas já era altura de mudar não?
Conhecido como o Explorador SideBurns, devido às expedições que levava a cabo, tinha vivido vários anos na dependência da UPA.
Era bem conhecida a sua tirada máxima.
Quem não alinhava com a UPA (a dele claro), ficava encarregue das rodas e pouco mais.
Para aprenderem, que isto do carácter forma-se é assim.
Na marra.
Aliás sempre que um Condutor-Ajudante tinha o primeiro embate com a personagem, já se sabia o que vinha.
Você tá na UPA?
Conduz nas folgas?
E já furou ou pensa furar alguma acção de sensibilização?
Ai dos nossos ajudantes se algumas das respostas não fosse do agrado do inquisidor-mor.
Ele era rodas, rabugice e aquele sermãzinho de padreco, recheado de piadolas mal conseguidas.
Viveu sempre impune, e tal foi a alavanca que a UPA lhe deu que rapidamente se tornou chefe da condução sincronizada.
Da UPA à estrutura CACAL, sem passar pela casa da partida.
À excepção dos dois contos claro, que esses é mesmo pra embolsar.
Só gente séria, está bom de ver.
Naqueles tempos, em que a mescla entre CACA e UPA era enorme, quem tinha um olho era rei.
E este nosso amigo tinha dois.
Estava habituado a confrontos, pois nas horas vagas, munido do seu barrete de corres garridas, dedicava-se à pega de bichezas pesadas.
Era de caras, de cernelha e afins.
Adorava a Aficion que a sabujada lhe dedicava.
Sim que isto já se sabe, dá-me poder e aparecem seguidores, daqueles sem muitas ideias próprias que é assim que nos dão jeito.
Devido ao seu carácter “frontal”, ninguém levava a mal e tudo lhe era permitido.
Se bem que ser “frontal” com quem está abaixo de nós na cadeia alimentar é coisa para ser assim, deixa cá ver o adjectivo, deixa cá ver se me lembro....
Várias vezes punha condutores ajudantes encarregues dos rodados, ainda se gabava do feito e gritava a pulmões cheios num aviso à navegação.
Chegou a ter problemas devido a isso.
Os chefes da CACA não gostavam que se tratasse assim os Condutores-Ajudante e decidiram actuar.
Esteve parado 8 meses, em casa, com um processo disciplinar vagabundo e sem nexo.
Um nojo.
Esperem, peço desculpa, enganei-me na história, estava a fazer confusão.
Não com este isso não aconteceu.
Talvez devido à relação com a CACA, talvez devido à sua manhozisse, o que é certo é que ninguém duvidava da sua justiça para com os “infráticos”e ainda era aplaudido.
Nunca perdeu a confiança dos Druidas e nunca foi para casa ad eternum à espera de resolução.
Outros tempos, outras vontades, outras miscigenações.
Falava como se a razão fosse a sua essência, e sempre naquele registo rabujo-malandreco, a fazer lembrar o simpático cachorro das Wacky Races.
Grande Mutley, quem não gosta dele?
Em 2008, estava cansado de ser uma personagem secundária.
Cheio de vontade de meter as mãos num tesouro maior e acreditando numa sucessão monárquica que sempre vinha acontecendo, tentou, aliado ao Captain Goofy e a uma entourage duvidosa, vingar na UPA.
Afinal, estava provado que quem domina a UPA, obtia igualmente os favores dos Druidas e se aquilo sempre tinha estado nas mãos “deles” não era agora que iria mudar.
Felizmente para todos nós, tal não aconteceu e tivemos 2 anos difíceis mas proveitosos.
A ter vingado, já sabem qual tinha sido o resultado.
Ah e tal, não é o momento, vocês até ganham Kuanzas a mais, e agora com licença que tenho que orientar-me mais um bocadito.
Igualmente não aceitou bem a derrota e quando a UPA esteve em conversações com a CACA para a melhoria de vida dos condutores, escolheu o seu lado.
O seu, mesmo o seu.
Antes, apregoava a unidade, porque quando estamos lá, é sempre bom termos exército pra fazer alarde e sentirmos o espaldar quente.
Agora mandava mensagens electrónicas aos condutores, apelando à desunião, tentando lançar a confusão, insultando o Continhas, a direcção da UPA e fazendo ameaças veladas.
Um Democrata de mão cheia.
E aí de quem diga o contrário.
Fica com as rodas e não mexe mais.
Vamos ao terceiro caso? Vamos a isso.
O terceiro caso fala-nos de um homem, homem esse conhecido como Captain Goofy.
Lembram-se dele da história anterior? Esse mesmo.
Também ele, tal como o nosso Henrique Galvão, alardeava da sua patente.
Num registo sempre apatetado, ia levando a sua vidinha sem grandes sobressaltos.
Mas ao contrário do personagem do velho Walt, a este nosso amigo não chegava ser mais um e aquela patetice tinha um objectivo.
Juntou-se a mais uns quantos e decidiram tentar a grande lotaria.
Pensou, se sou um tipo popular, neste registo friendly goofy, vou mas é capitalizar isto e serei o próximo chefe da UPA.
É que é limpinho.
Goofy ao poder.
Elaborou o seu exército, recheado de mais do mesmo e confiou na apatia geral.
Tão convencido estava da vitória, que numa acção normalíssima para quem quer ser chefe da UPA, marca uma reunião com os chefes da CACA antes de lançar a empreitada.
Para delinear em conjunto as estratégias...
Epá, cheira a malandrice pensam os Amigos Ouvintes.
Pois cheira e não é só a isso que cheira.
A CACA sempre disposta a fazer alianças, prontamente realizou a dita reunião.
Normal, normalíssimo e explica muito do passado recente.
Vieram as eleições e não há mal que dure sempre, algum dia havia de ser.
Perderam e para o bem de todos nós, vimos que havia vida para além do défice.
Sim, défice.
De honestidade, de verdade, de decência, de lisura, e de muitas outras coisas.
O nosso Goofy acabou mais tarde por perder também a compostura.
Num registo mais azedo, em frente a dois Condutores-Ajudantes e a quem o quis ouvir, metendo foice em seara alheia, desejou a um colega Condutor-Principal, que se debatia na altura com um problema grave de saúde, desejou então que este ficasse inválido de vez.
Que bonito.
Enfim, patetices que lhe assentam com uma luva, mas que continuam a ser isso.
Patetices.
E é por estas e por outras que sempre que nos vêm com aquela conversa da decência própria, cheios de virtudes e os outros cheios de defeitos, que temos que olhá-los bem de frente e dizer.
Ó meu Manholas, quantas vezes é que já te vi em ceroulas?

Parafraseando Mark Twain

A notícia da minha morte, às mãos dos Druidas da CACA, é um evidente exagero.

segunda-feira, abril 26, 2010

O Perna de Pau

Amigos ouvintes, antes de mais, peço desculpa pelo silêncio.
Como sabem aquele vulcãozito de nome fácil, acordou na semana passada.
Com o velho continente parado, eu e o meu camião voltámos a ser necessários.
A vida não anda folgada de modo que uns Kuanzas a mais são sempre bem-vindos.
Assim, este vosso amigo, sempre à espreita de uma oportunidade de negócio, passou os últimos dias a rentabilizar a camionete, de um lado para o outro, fazendo o transporte por estrada das mais diversas cargas e personalidades.
Já sei o que vão dizer.
Que há negócios mais rentáveis e menos trabalhosos, nomeadamente naqueles jogos da bola e os geis milagrosos.
Eu sei isso, sei que sou antiquado, mas mesmo assim, prefiro a legalidade.
Nunca alinhei com ciganadas e pelo menos vou dormindo descansado.
Uma vez regressado, vamos hoje contar uma história de época.
Uma história de piratas e corsários à séria.
Daqueles do olho de vidro, perna de pau, cara de mau e papagaio no ombro.
Bom, olho de vidro será um exagero, mas quanto ao resto...
Não teremos o Errol Fliyn, nem outros famosos da sétima arte.
Quem espera capa e espada com nível, glamour e brilho é melhor pensar duas vezes.
Piratas bonitos serão uma miragem.
Aqui gostamos dos personagens feios, porcos e maus.
Como eles são na vida real.
Ainda tentámos contratar o Johnny Depp para o papel principal mas o budget apertado não nos permite.
Contingências da crise.
Adiante.
Há muito muito tempo, num reino distante, vivia o nosso personagem.
No reino deste pirataço não existia lei.
Ou melhor existia mas não era pra ele.
Nascido num tempo em que tudo era permitido o nosso pirata cedo viu as vantagens da piratice, para conseguir levar as suas empreitadas a bom porto.
Iniciou-se na CACA-OI e foi levando a sua vida inicialmente sem sobressaltos.
Um dia a CACA resolve abrir uma subsidiária, a Yes Weekend, já falada anteriormente.
Esta nova empresa dedicava-se ao transportes de veraneantes, para aquela semaninha de inferno All-Inclusive, mojitos à fartazana e coristas de hotel com meias de rede rotas em coreografias deprimentes.
O nosso amigo, junto com outros piratas de renome tinha sido um dos “escolhidos” e transferiram-se todos para a dita subsidiária.
“Escolhidos” é uma maneira de dizer pois os critérios foram sempre duvidosos.
Dizia-se que ele, junto com os outros espertalhões, viram ali um short-cut.
Para uns foi a camionagem pesada antes do tempo, para outros o lugar de condutor-principal muito antes, para outros os mojitos, para outros as louras...
Cada um teve as suas razões, e certamente válidas.
Todos juntos, montaram o esquema e lá foram eles.
Olharam para o bolo e o que cada um comeria ficou logo destinado.
Não deixava no entanto de ser engraçada a feliz coincidência de todos os que ganharam com isso, estarem na altura nos meandros da UPA, tendo-a usado para se proteger, como veremos mais à frente.
Coincidências que o nosso Francis Drake, soube usar em seu proveito.
Deu-se assim inicio à operação Verão.
Experiência fabulosa, semanas inteirinhas em hotéis de luxo, caipirinhas mil, beldades louras de bikini curtos.
Êta vida boa...
Mas a vida das subsidiárias é sazonal e é preciso correr atrás.
Se no verão a coisa corria bem, já no inverno, tal como a cigarra, havia que ir a todas, quando e onde desse.
Só que o nosso pirata e sus muchaxos queriam o melhor de dois mundos.
Os mojitos e as louras, mas as regras laborais da casa-mãe.
Aquela rede de segurança que tanto jeito dá.
Uma Win-Win situation portanto.
I win, I win.
Não há almoços grátis e os gestores da Yes Weekend começaram a pedir um pouco mais de empenho à rapaziada.
Ai que não pode ser, isto é uma vergonha, a escravatura já acabou.
Na altura, como assumia a sua piratice, era só direitos e regalias.
Então se eu estou em casa 15 dias sem fazer nada, hoje que estou de folga é que querem que me faça à estrada.
Só porque arranjaram um contrato para hoje.
Logo para hoje que não me dá jeito nenhum.
É que os 15 dias não me chegaram.
Não, Não vou e não se fala mais nisso. Arranjem outro.
Essa, era uma, entre outras tropelias várias.
Os tempos máximos de trabalho eram pra ser respeitados tal como na casa mãe.
Lei é lei.
A menos que se levasse a namorada na camionete para aquela semaninha de férias...
Aí, como valores mais altos se “levantavam”, quais atrasos, quais tempos máximos.
Aí se via a verdadeira força da lei...
Estamos aqui é pra trabalhar.
Era pra ir e mais nada, desse por onde desse.
Assim acontecia e claro, não deu.
A própria manutenção das máquinas já deixava a desejar e a coisa piorava a olhos vistos.
Com estas e outras que iam acontecendo, não restava grande margem de manobra aos gestores da YW.
Entretanto, uma vez que os piratas dominavam igualmente a UPA, faz-se uma reunião magna.
Qual assembleia do PREC, cheia de piratas e todos cheios de razão.
Até as louras queriam trazer com eles de volta à casa mãe e alguns pediam apoio do resto da plebe para tão altos desígnios.
Lindo de ver é o Amor.
A CACA mais não podia fazer, e ordenou a volta de todos os piratas.
Voltaram mas vinham de bolsos cheios.
O saque tinha sido bom, uma vez que voltavam para os lugares que ocupavam na YW, mas agora na casa-mãe.
O nosso amigo foi assim, um dos principais causadores da queda em desgraça da Yes Weekend, mas isso agora não o incomodava.
Estava de volta à casa que o viu nascer e uma vez que tinha sido incorporado na camionagem pesada, teria tempo livre em mãos para se dedicar a outros hobbies.
Quais seriam?
A ajuda a instituições de solidariedade?
O voluntariado?
Não, não se esqueçam que estamos a falar de um pirata, mas um pirata ambicioso.
Ambicionava ser mais do que pirata, por isso queria algo que lhe desse algum glamour.
A criação de equídeos era a sua paixão e dedicar-se-ia a isso de corpo e alma.
Andaria mergulhado no estrume, com bosta pelos joelhos a desbastar os animais.
Teria belos exemplares e assumiria aquela postura de aristocrata titular que tanto almejava.
Seria um Pirata-Criador, o que sempre confere outro “estar” e impressiona a Coroa.
Assim o fez e pensámos todos que ficasse por aí.
Pois pensámos.
No entanto o saque que tinha trazido da YW não lhe chegava de modo que dá inicio a um movimento rebelde com outros piratas.
Tipo maio de 68, mas sem mamocas à mostra, embora desse ideia que tal como os estudantes de outrora também eles teriam fumado qualquer coisa, tais eram as piratices.
Que nome iriam dar ao movimento era a questão.
Depois de muito pensarem chegou-se a um consenso.
Piratas sem Horizontes, seria o nome escolhido.
Pretendia ser uma plataforma de reflexão da piratice, mas na realidade os objectivos eram bastante mais maquiavélicos.
Plataforma de proscritos diziam uns, mas piratas proscritos? Não seria um contra-senso?
O futuro se encarregaria de nos mostrar que não.
Seria uma plataforma onde encontrariam morada, todos aqueles que se sentissem órfãos da estrutura e do poder de outrora.
Os novos órfãos tinham chegado.
Os estatutos da dita associação eram bem claros.
Recuperar o que foi nosso a qualquer custo.
Não fariam prisioneiros.
Aproveitando tempos de guerra aberta entre a CACA e a UPA, a tal que tinham perdido, vê aí a sua chance de mudança de actividade.
A chance perfeita.
De pirata passaria a corsário.
Faria as malandrices a soldo da coroa.
Assim sendo, inicia conversações com os Chefes da CACA e vende os seus serviços aos antigos inimigos.
Uma vez patrocinado pela coroa, seria muito mais fácil a sua movimentação por mares tempestuosos e teria a cobertura para as suas piratices.
Andaria em cima do muro ao sabor dos ventos predominantes.
Os chefes da CACA sabiam do que ele era capaz, pois os episódios da YW estavam ainda vivos na memória, mas mais vale um Judas do nosso lado que contra nós e assim esfregaram as mãos de contentes, receberam-no no seu seio e emitiram-lhe as instruções.
Começava aí a era do Corsário.
Tal como Francis Drake, também ele traria as riquezas máximas para a coroa que servia.
Seria o Francis Drake da camionagem.
Imbuído do novo estatuto delineou o plano.
Qual a melhor forma de começar o serviço pensou.
Tenho de arranjar um assunto que reúna alguns descontentes e tentar capitalizar a coisa com alguma desinformação.
Já sei, vou impugnar o contrato do Continhas e tentar lançar a confusão.
Se assim pensou, melhor o fez e munido da sua altivez e seriedade vai para os tribunais do reino tentar denegrir a imagem alheia.
Ele cheio de virtudes e os outros só defeitos.
Claro que como bom pirata das suas piratices e malandragens não se lembrava ele.
Eu explico.
Para a prática da camionagem eram precisos dotes físicos mínimos e o nosso amigo não os cumpria.
Não cumpria mesmo.
A lenda dizia que devido a uma batalha antiga nos mares do Caribe, tinha perdido uma das pernas e agora, como bom pirata que era, ostentava uma perna de pau, no lugar onde outrora pontificava uma bela canela de carne e osso.
Mancava até mais não e até os cegos da rua, sabiam quando se aproximava devido aquele irritante, toc toc toc toc, toc, toc...
Apesar disso, estranhamente, os curandeiros do reino emitiam-lhe semestralmente o salvo conduto real para operar as ditas máquinas.
Mais estranho ainda era o facto do nosso amigo possuir uma declaração real que averbava a sua inferioridade física.
Devido a essa declaração, estava isento do pagamento dos vários impostos e tributos devidos ao reino.
Tinha inclusive direito a parar a carroça naqueles locais para diminuídos, aqueles mais perto da porta.
Tudo para não forçar tanto a perna de pau.
Nas filas dos supermercados e mercearias, idêntica situação.
Deixa passar que o senhor é aleijado.
E ele passava, rindo-se por dentro da ingenuidade alheia.
Não, não era aleijado, era sim vigarista, como qualquer pirata que se preze.
Assim decorria a vida do nosso pirata convertido em corsário.
A dar a volta a tudo e todos.
Ficaria por aqui?
Claro que não.
Uma vez que a jogada suja do contrato do Continhas iria demorar, havia que entrar por outros caminhos.
Socorrendo-se de amigos, piratas dos tablóides, minava a confiança dos condutores.
Uma das formas mais ardilosas, consistia em enviar mensagens electrónicas de dentro de assembleias magnas da UPA.
Assim, mesmo antes dos condutores votarem os seus assuntos, já os tablóides os divulgavam para que todo o reino pudesse saber, tirando força à rapaziada.
Enfim, coisas que já saem do âmbito da piratice e ganham novos adjectivos.
Adjectivos esses que infelizmente não poderemos usar por respeito aos mais sensíveis e às Crianças que nos lêem.
Entretanto, avizinhando-se o fim do mandato da direcção da UPA, tem nova ideia mirabolante.
Resolve patrocinar um encontro de condutores numa estalagem, para mais uma vez tentar tirar partido da desinformação e da mentira.
Contactado o estalajadeiro informou-o das suas necessidades.
Vêm aí uns rapazes escolhidos a dedo, de modo que quero uma sala em que possamos reunir sem ser interrompidos.
O estalajadeiro anuiu, mas já se sabe, almoços grátis não há e os impostos do reino estão cada vez mais altos (sim, que ao contrário do nosso pirata, o estalajadeiro pagava os seus).
Eu arranjo a sala, mas quero uns dobrões de ouro para pagar a despesa.
O nosso pirata disse que sim, dobrões não faltariam, mas esqueceu-se de informar os restantes piratas que teriam de pagar pela sua presença.
Mais ou menos do género, vem cá a casa jantar mas traz tu a comida.
Estiveram lá muitos e vindos de todas as partes do reino.
Todos queriam ouvir as boas novas e tentar ver se seria por ali o caminho do novo poder.
Desde antigos dirigentes máximos da UPA, ex chefes da camionagem, chefes wanna be, gente do norte, gente do centro, enfim, até do reino dos algarves chegou um emissário.
Gente boa lá havia, mas muitos deles sem eira nem beira.
Havia de tudo nesta palete. Era só escolher.
O ponto de ordem residia em criar um movimento de fundo e rebentar com a UPA e os seus líderes, antes do dia D, a bem da classe claro.
Claro.
Só que os Homens da UPA estiveram lá e não se acanharam.
Falaram, expuseram os seus pontos de vista e a mentira não vingou.
A reunião acabou por ter um rumo que não era o desejado pelos organizadores.
Um dos convivas, antiga glória da UPA, acabou inclusive por sair irritado com tanta piratice e tanta falta de rumo.
As razões ninguém as soube mas que saiu mais cedo saiu.
Teve sorte, safou-se ao pagamento.
Pois, é que no fim, o nosso pirata organizador não se ficou.
Embora pudesse ter pago o aluguer da estalagem com os dobrões que rouba nos impostos reais, já se sabe, uma vez pirata, sempre pirata.
Se há que pagar, divide-se por todos que eu sou muito doente e não posso.
Reparem na perna de pau.
Eram 7,5 dobrões de ouro a cada um por favor.
A rapaziada ferveu.
Além de não terem conseguido lograr os seus intentos, ainda tinham que pagar.
Que luxo de organização, pra próxima não me convidem.
Acabou tudo zangado e a guerra UPA-CACA foi levada a bom porto.
O dia D chegou, com acordo entre as partes.
A CACA não faliu e afinal até o vulcãozito “Joli”, causa mais dano.
Do nosso Francis Drake de trazer por casa, nunca mais ninguém ouviu.
Mas não se iludam.
Deve andar neste momento, pelos mares a preparar o próximo saque.
Piratas que o queiram acompanhar sempre haverá, pois existem sempre malandros novos.
E foi assim que um pirata ganancioso se tornou num corsário do Reino.
Vitória Vitória, acabou-se a história.

Nota do Autor.
Francis Drake era filho bastardo da Rainha Elizabeth e todos sabemos o nome carinhoso com que o povo mimoseia os filhos bastardos.