sábado, agosto 14, 2010

Cabo escondido com rabo de fora

You'll always miss 100% of the shots you don´t take.

Pois é Amigos Ouvintes, sempre na tentativa da internacionalização, eis que iniciamos hoje mais uma crónica da camionagem, e desta feita com uma sábia frase na língua de Shakespeare e Allan Poe, frase essa que ilustra bem o actual momento vivido na CABO.
Já tinham saudades da CABO, confessem.
A CABO, Cabine Associada e Bem Organizada, tinha por objectivo, tal como referido numa antiga crónica, o seguinte:
"Defender o pessoal trabalhador das cabines das camionetes"....
Irónico não é?
Defender.....Bem, os últimos tempos pareciam não dar razão a esta frase mas já lá vamos.
Na realidade, a dita associação vinha vivendo uma situação estranha, não nos últimos tempos mas sim, nos últimos anos.
Era problema que já vinha de longe.
Os donos daquilo, sim que entretanto havia uma rapaziada que se tinha tornado dona, não queriam largar o poleirito nem por nada.
Gostavam da coisa, afinal ser dono de uma associação que mexe em tantos Kuanzas dá sempre alegria a quem os controla e passados tantos anos a viver das benesses de contribuições alheias, a dificuldade em voltar à vida real, era coisa difícil de encarar.
Passar a pagar os próprios almoços, levantar cedo, e todas essas coisas chatas da vida corriqueira.
Tal como aquele rapazola olímpico, eram assim os donos da CABO.
De manhã só na caminha, que isto de andar de trouxa às costas, metido em camionetes pra trás e prá frente é coisinha para não dar saúde a ninguém.
Além do mais, havia aquele pormenor chato que acontece nessas viagens camionísticas, aquele que depois nos dão Kuanzas ao fim do mês, como se chama aquilo?
Que raio, pensavam eles, já foi à tanto tempo que nem me lembro.
Já sei, gritou um mais lúcido, trabalho, é trabalho essa coisa dos Kuanzas.
Ah pois é, tens razão.
Opá, isso é que não, há que manter isto a todo o custo, temos mesmo que segurar este barco que já não tenho saúde pra mais.
Não tinham mesmo.
Se assim o pensaram, melhor o executaram.
Quando ameaçados numa contenda eleitoral recente e vendo que a realidade poderia ser amarga, reuniram pessoal velhote, pessoal de fora, pessoal sem orientação e orientaram-se...
Lá levaram de vencida a rapaziada desafiante.
Por escasso votos é certo, mas a democracia é assim mesmo, nem que fosse por um.
Conseguiram passar a mensagem que os outros eram muito novitos, sem experiência e por isso, neste momento tão grave da vida mundial, havia que manter à frente do barco alguém com experiência comprovada.
Lá comprovada ela estava sem dúvida...
Aliás em termos de coisas comprovadas poderíamos aqui lembrar grandes personagens da história mundial que comprovaram tudo e não deixaram dúvidas.
E tudo rapazes simpáticos...
Ganha que foi a contenda, deu-se então inicio à operação de charme.
Eu explico.
No passado, a CABO tinha contratado o Continhas para ajudar ao melhoramento das condições de vida da meninada.
Mas isso era coisa do passado.
Aproveitando o facto de haver alguma desconfiança em relação à personagem, e numa inflexão que já vinha sendo usual, eis que resolvem denunciar o contrato.
Acabou-se o Continhas, em troca do favor CACAL que aí vinha.
Alguns rejubilaram, pois para as mentes pequeninas, um Condutor metido nisto, de certeza que não era bom negócio.
Mentes tão pequeninas que não conseguem ver para além do seu quintal, sempre foi uma característica nacional.
O Continhas aceitou, saiu pela porta por onde tinha sido convidado a entrar e dedicou-se em exclusivo à UPA onde num momento do mundo em que até os de Goa já olham para as vacas e começam a salivar, conseguiu o que outros não conseguiram quando as mesmas eram gordas.
Contas de outro rosário...
Claro que, qual teoria do caos, nada acontece por acaso e eis que de rompante a CACA se apressa a entregar uns Kuanzazitos que estavam devedores em relação a trabalhinhos passados.
Uma mão lava a outra, já diz o ditado e naquela fase, Continhas fora era imperativo para a CACA.
Trocou-se assim, a possibilidade de um acordo sólido, bem estruturado para o longo prazo e que traria melhorias substanciais à qualidade de vida, por uns Kuanzas que já a todos pertenciam e que acabariam por vir, mais cedo ou mais tarde.
A miudagem galhofeira, ganhou folga na carteira de imediato e assim a compra daquele LCD de 42", de cores vivas, cantos quadrados e super motion HD passou a ser uma realidade.
Já o corpo director ganhou aquele campozinho de manobra que tanto jeito dá, um balãozito de oxigénio por mais uns meses, que vamos empurrando com a barriga e logo se vê.
E viu-se.
Parafraseando os políticos da Pátria, eis que vamos começar a dar o dito pelo não dito que ninguém nota.
Mas a miudagem não é tola e os LCD, são como aquela namorada nova, ao fim de 3 meses, já não é a mesma coisa de modo que, queriam mais qualquer coisa, porque afinal, os Kuanzas já eram passado, e isto do vil metal já se sabe, vai-se num instante que até dói.
Já ninguém se lembrava dos Kuanzas e agora queriam melhores noites e mais lazer.
Seria possível?
Entretanto, o verão estava ao rubro e claro, mercê do bom planeamento, a miudagem não chegava para as encomendas.
Ninguém esperava este aumento de frequência das camionetes, afinal andamos nisto há pouco tempo e tal...
Com miudagem a menos, as camionetes andavam sem graça, os cliente com fome, enfim, um Deus nos acuda, que as altas temperaturas do deserto só vinham acentuar.
Os donos da CABO, habituados a jogos baixos resolvem fechar um brilhante acordo com a CACA .
Mudar-se-iam as regras para acomodar as faltas gritantes, e a partir de agora poriam o ónus em cima do mais fraco.
O Chefe da miudagem passaria a ser o culpado e não se falava mais nisso.
Bonito sim senhor.
E Rezava assim.
Antes ninguém comia, mas se houvesse boa vontade e por especial favor, a coisa até se arranjava.
Excepcionalmente claro está.
Com o novo acordo seria mais engraçado.
Comer era sempre, que isto é um restaurante sobre rodas, mas se houvesse uma Excepcional má-vontade por parte do elo mais fraco, então não havia comezaina.
Ninguém o açoitaria, mas seria sempre um malandrim.
Claro que os clientes iriam adorar saber que a fomeca não era à conta da má planificação, mas sim da má vontade daquele energúmeno que ganha milhões, farta-se de passear e não faz nenhum.
Brilhante, passamos o peso para aqueles que lá andam e fazemos um figurão com os da CACA a quem devemos tudo e que tem sido tão bons para nós.
Nós, que até deveríamos ser o defensor da rapaziada, mas isso agora não interessa nada e não dá jeito nenhum.
Acordo assinado, havia que defendê-lo junto dos pasquins de opinião e assim foi feito, demonstrando aquela total falta de tino que já vinha sendo hábito.
Que sim, que dava, era perfeitamente exequível e que só por falta de vontade não aconteceria.
E para que o ramalhete fosse completo, de bónus, a CACA na sua magnitude ainda dobraria os Kuanzas sempre que fosse executada a tarefa.
Olha a cenourinha....olha olha......
Enfim, uma bela maneira de mostrar que tudo tem um preço, e tentar deitar por terra outros argumentos.
Só que o povo não gostou.
O povo não gostou de sentir que estava a ser vendido, com etiqueta de "Rebajas" e tudo, nem o povo, nem alguns da cúpula, que estando fartos dos flip-flops da chefe-mor resolvem partir para outras actividades, que não incluíssem o achincalhamento dos seus iguais.
Rebates de consciência.
Isto tudo a poucos dias de uma sessão explicativa sobre o assunto.
Catita, muito catita mesmo.
Catita e demonstrando largamente o porquê do carinhoso apelido de silly season com que é designada esta quadra festiva.
A chefe-mor, a ver o chão a fugir, tal qual um dançarino de tango no meio de um terramoto, eis que numa jogada de génio, vem defender o contrário do dia anterior.
Mais um flip-flop de circo, a lembrar um elefante bêbado numa loja de porcelanas.
Que não, não era pra aceitar nada, que afinal aquilo que até tinha sido negociado por ela, não era a sério.
Estava a brincar, era a gozar, vá lá, não levaram a sério pois não?
Felizmente a rapaziada tinha levado e começava a perceber que com estes, já não ia a lado nenhum.
Mais vale tarde acordar, que sempre sonhar.
Mais do mesmo e muitos flip-flops, não obrigado.
Começou a reunir-se e a delinear estratégias.
As redes sociais, essa praga do século XXI abarrotadas de denúncias e raiva acumuladas.
Uns defendiam uma mudança imediata e uma ruptura total com este passado.
Outros mais radicais, a forca e o apedrejamento em praça pública.
Alguns, pouco é certo, por incapacidade de visão, comodismo ou genes de burrico, diziam que às tantas era melhor deixar estes acabar, que mais baixo, isto já não ia.
Será que não, vai uma apostinha?
Quando se deixa tudo na mesma o resultado nunca tende a melhorar.
Por isto tudo a pergunta que fica no ar é, depois de gorada a chance de mudança num passado recente, a quanto mais se está disposto?
Sem dúvida que, “You'll always miss 100% of the shots you don´t take”.

1 comentário:

  1. É bem Ratolas. Gostei muito deste comentároi em fartazana. Só fico contente por te teres enganado numa coisa...a aposta.
    Tá genial o texto, um abraço

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