sexta-feira, julho 23, 2010

As Tristes Aventuras do Pilha Galinhas

Todos nós na nossa vida já conhecemos alguém que arvorado em malandreco tenta trapacear os outros.
A historieta que vos trazemos hoje, fala-nos de um personagem que querendo ser um Dillinger da camionagem, não passou dum Zé do Telhado manhozito.
Palavras para quê, é um artista português.
Não acreditam?
Então, tal como na música daqueles rapazes cabeludos, Here we go again.
Inicia-se à muito muito tempo, nas artes da camionagem um rapaz de leve ascendência germânica e modos rudes.
Alma de caserna, escolheu como melhor caminho, a vida castrense e aí vai ele pelo mundo fora, bivaque enterrado, calças subidas, desbravando novos mundos.
Tropelias mil, piruetas várias, sempre vivendo a adrenalina de velocidades estonteantes...
Um dia, já cansado da vida de caserna resolve dar o salto.
E se fosse para a CACA?
Ouvi dizer que lá eles pagam bem, tem moças bonitas e comida farta.
E eu que gosto tanto de comer. Até me lambuzo todo.
Ui que é mesmo isso.
Mas a mudança, implicaria deixar para trás muita coisa que gostava e iria levá-lo para longe das camionetes mais pequenitas onde além de condutor, sempre dava uma perninha na manutenção das ditas.
Pensou, pensou.
Era difícil a decisão, o óleo chamava-o, mas a ração na CACA era melhor e lá está, gostava tanto de comer...
Com o tempo arranjaria um esquema que pudesse aliar a comezaina farta com a actividade anterior de quebra-galhos das camionetes.
Da vida de ajudante pouco se sabe.
Sempre se manteve à margem de qualquer polémica.
Concordava com tudo, mesmo quando não, sempre vendo o pendor da maioria.
Era mais cómodo, ninguém dava por ele e ia assim levando a sua caminonete a bom porto.
Talvez devido à sua pose, talvez devido à ascendência diferente, sempre se sentiu um ser especial.
Achava que tinha bebido mais chá (lá está o tal sintoma recorrente), que a maioria dos humanos e por isso era rápido a julgar, pois sabia o que valia na comparação.
Seria assim?
Passado um tempo como Condutor-Ajudante, eis que a CACA, resolve alavancar o rapaz ao posto principal.
Epá, tão bom que vai ser.
Agora é que ninguém me agarra, vou ser sempre o primeiro a escolher.
Gosto tanto, que até me lambuzo.
Lá iniciou a sua vida de Condutor-Principal, sem grandes desvarios.
Dava pouco nas vistas, mas dizia quem o conhecia que não era bem assim.
Que era um artista, e não estavam a falar propriamente ao nível duma Paula Rego.
Era um seguidor da maioria diziam, pois não tinha muita coragem de pensar por si.
Que não era muito polido diziam outros.
O que é certo é que a vida ia avançando.
Tudo corria bem, até que um dia, vai com a sua camionete a um país tropical e eis que a coisa azeda.
Motor partido, radiador empenado, fumo por todo o lado, óleo a esguichar e uma data de problemas que só os formados nas artes da mecânica são capazes de resolver, certo?
Errado, claro que está errado.
O nosso amigo tinha tirado um daqueles cursos por correspondência de mecânica em 10 lições e de parafusos percebia ele.
Ele, que até em tempos tinha arranjado uma torradeira com mau contacto e poupado um dinheirão.
Desde essa altura o pãozinho de manhã parecia outro.
Não, não, qual mecânico qual quê.
Alguém me arranje 1 chave inglesa, um martelo, um tubinho de silicone, 2 abraçadeiras, um bocado de borracha e abram alas faz favor, que eu tenho um motor a reparar.
Depois da torradeira, era o passo lógico...
Desce da cabine e eis que de martelo na mão, óculos ray-ban “vintage”, empoleirado num escadote e rodeado dos indígenas, dá inicio à “Operação Carcaça”.
O nome da operação nunca ninguém entendeu bem, mas já se sabe, com a relação que o nosso amigo mantinha com a comida, já muita sorte foi não se ter chamado “Operação Toucinho”.
E em que consistia a dita operação, perguntam os meus Amigos Ouvintes.
Ora bem, consistia em munido das ferramentas acima descritas, fazer-se desaparecer dentro do motor da camionete, tal como os domadores do circo quando enfiam a cabeça nos leões.
Só que os motores não mordem...
Now you see me, now you don´t, que já me enfiei até ao pescoço.
Felizmente para quem gosta de uma boa galhofa, há sempre um fotógrafo por perto quando estamos a fazer disparates e aquele dia não foi excepção.
Pumba, toma lá com primeiras páginas dos periódicos.
Lindo de ver e que bem que ficaram aqueles Ray Ban na fotografia publicada. Caixinha inclusive.
A coisa lá se compôs com a chegada de profissionais e lá conseguiu regressar à pátria lusa mais a camionete reparada.
Havia sido vencido, mas isto não ficaria assim.
Entretanto, havia que tirar rendimento ao tal curso de mudança de óleo por correspondência.
O que vou fazer para maximizar isto, pensou.
Já sei, uma vez que “vintage” é a minha praia, vou juntar o útil ao agradável.
Formou então uma empresa em que restauraria camionetes antigas pequeninas, e as poria novas a brilhar.
Teria chance de aliar as duas paixões, o óleo e as camionetes de bolso.
Fantástico.
Assim nasceu a GAMAR
Grupo dos Amigos da Manutenção Alternativa e Reconstrutora.
A GAMAR tinha algumas particularidades engraçadas.
Começava pela composição da dita cuja.
Presidente, claro, tinha de ser o nosso amigo porque até aí, presidente só mesmo da rua dele e a rua não era grande, por isso havia que ser de mais qualquer coisa.
O segundo posto mais importante já se sabe é aquele dos Kuanzas, o tipo que os controla.
Controlas o tipo dos Kuanzas controlas tudo.
O tipo tinha de ser de confiança, logo quem melhor do que um familiar muito próximo para tesoureiro.
Assim foi.
Agora com o Pilha-Galinhas a presidente e a família na tesouraria, havia que dar inicio à recolha de fundos.
Dirigiu-se então às grandes empresas nacionais e.....
Estava a brincar, peço desculpa.
Que sitio melhor para “recolher” fundos que junto dos nossos, daqueles que ainda vão acreditando em nós e nos dando algum crédito.
Assim foi.
Nas viagens mais longas, depois da comezaina habitual, em tom ameno iniciava com os Condutores-Ajudantes a conversa da GAMAR, espraiando toda a sua técnica de vendedor de colchões ortopédicos, daqueles mesmo bons e tal.
A conversa decorria nos seguintes moldes.
Ora bem, o amigo dá agora uma contribuição e fica sócio da GAMAR.
Uau a sério? E depois e depois, perguntavam os Condutores-Ajudantes.
Bom, depois como a sua quota será para ajudar à recuperação das camionetes, assim que a dita esteja pronta pra rolar, o amigo terá a espectacular oportunidade de se sentar aos comando de tão ilustre máquina, onde poderá tirar umas fotografias para mais tarde recordar e impressionar as fêmeas.
Terá ainda chance de fazer umas milhas com a dita máquina, impressionando igualmente os basbaques circundantes.
Que lhe parece hã?
Olhe que oportunidades destas não aparecem todos os dias.
E se decidir agora, fica ainda habilitado a um fabuloso trem de cozinha, daqueles com pegas de borracha e em que a comida não pega ao tacho.
Uso desses lá em casa e olhe que gosto muito.
Então, vai ou não vai uma contribuiçãozinha?
Um esquema assim tipo Banco Privado, mas em pequenino e com óleo à mistura.
A rapaziada, uns por cansaço, outros porque sentiam o peso da autoridade, outros só para o calar e outros por pura ingenuidade, lá iam contribuindo.
Sempre na esperança de um dia se porem aos comandos do tal Xaveco velho.
O tempo foi passando, os Kuanzas rolando, mas do Xaveco em recuperação, notícias nada.
A rapaziada come e cala, de modo que lá perceberam que tinham contribuído para o hobbie do artista, comeram e seguiram em frente.
É sempre assim com os malandros, são os credores que ficam sempre sem jeito.
Longa vida ao cobrador do fraque.
A vida corria, até que um dia dá-se um caso de fuga de informação a nível mundial, coisas da segurança nacional, questão já abordada num texto passado.
Sem ter nada para fazer, pois o óleo estava em falta, eis que o nosso amigo resolve meter a sua foicezita em seara alheia.
Armando-se em defensor dos bons costumes e sem ter nada a ver com o caso, resolve que vai brilhar.
Pensou, então se a maioria está a bater, eu se bater mais, fico aqui com uma pintarola de herói que vai ser um sucesso.
Ui se os da minha rua me vissem agora...
Dando asas à pena, eis que solta um texto pouco simpático a respeito de alguns colegas.
Incrivelmente, muito gente dizia, ah vem desse, claro, mas esse....e calavam-se como que se fosse uma certeza a sua vacuidade mental.
Tal como naquela terceira lei do rapaz da maçã, também isto gerou reacções, reacções essas que vieram na forma de duas missivas.
Com a primeira, ficámos todos a saber o nível de coragem do nosso Pilha-Galinhas.
É que apesar de ter usufruído da presença de um dos visados durante dois dias, pouco tempo antes, nada fez para descortinar a história, preferindo a lavagem na praça pública.
A coragem varia sempre na razão inversa da distância....
Coragem 0 – Cagufa 1
Depois, bem, depois eis que surge na praça a segunda reacção.
Já por muitos considerado o melhor manual jamais escrito de “Como acabar com um Pilha-Galinhas”.
A ser editado em livro no futuro ou quem sabe algo mais.
Surge em forma de missiva particular, mas já se sabe, se até o Aníbal eles escutam, era agora a missiva que ia ser particular...
Numa linguagem simples, directa e pontiaguda, são descritas com exactidão e sem rodeios todas as actividades malandrecas do nosso Pilha-Galinhas.
Um fartote de boa disposição, roubos de mercearia e afins.
Ficámos a saber igualmente da existência de uma rua em que todos os rapazes são baixotes e outros tesouros, que nunca serão esquecidos.
Tudo isto patrocinado por aquela empresa do Sr. Kamprad, aquela dos moveis em puzzle e espelhos baratos.
Baratissimos.
O nosso Pilha-Galinhas que se saiba nunca respondeu às missivas enviadas.
Lá está, Coragem 0 – Cagufa 2
Ainda assim, conta-se que terá ficado a fazer festas ao ar, num incidente recente que já corre à boca solta.
Presenciado por muitos, tem sido motivo de risota contida nas instalações da CACA.
Por isso amigos, em jeito de despedida vos digo.
Guardem as galinhas, apliquem os Kuanzas em cerveja e esqueçam as contribuições passadas que essas, já eram.

1 comentário:

  1. Que o Camionista em questão, está com uma pança de fazer inveja a alguns políticos da nossa tão bem frequentada praça, disso não há dúvida.
    Com pose de pavão e tudo! É a ..... da velhice a ser mal vivida.

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