sexta-feira, setembro 16, 2011

Liderar - Um ensaio sobre os Druidas

Liderar...
Por autoridade ou por inspiração e exemplo?
O que será um ‘líder nato’?
Alguém que sabe fazer uso da autoridade que tem, um déspota, ou alguém com carisma e tranquilo que de forma natural e não-coerciva consegue aglutinar vontades e esforços para um objectivo comum?
Fazer do processo de liderança um exercício de fiscalização e de atribuição de responsabilidades (somente) em situações de falha ou ruptura, é um exemplo comum de incapacidade de liderar!
Não é invulgar, quem lidera com medo e pelo medo, assumir como insubordinação toda e qualquer proposta que vá contra a sua "ideologia".
Outro erro de avaliação muito comum, é confundir-se ‘ambição’ com capacidade de liderança.
Temos tido muitos ambiciosos mas poucos lideres.
Alguns dos sinais externos de uma liderança capaz e destemida traduzem-se por exemplo no ambiente de trabalho, entusiástico e enérgico.
Satisfação e sentido de realização pessoal.
Empenho e colaboração.
Veja-se o exemplo de empresas de enorme sucesso como a Google, Microsoft e a Apple!
Quando o ambiente não é esse estamos perante uma organização gerida por fracos lideres, que mais não fazem que "tratar da sua vida".
A ‘receita’ é simples e de fácil consulta para quem esteja realmente interessado.
O difícil é haver vontade e gente séria para o fazer.
E os actuais não são sérios...
Um líder sabe distribuir os louros, e sabe assumir a responsabilidade das derrotas.
Um líder sabe reconhecer a capacidade de quem com ele trabalha e não receia em apostar e premiar essa mais-valia, alimentando um espírito competitivo saudável e fundamental para o sucesso de qualquer empreendimento.
Um líder sabe aceitar a critica e não a vê como um ataque pessoal.
Um líder valoriza o contributo de todos quantos com ele (e não para ele) trabalham em prole do objectivo comum.
Desde o responsável pela limpeza e higiene ao colaborador mais próximo.
Todos têm um papel a desempenhar e a qualidade da sua performance tem repercussão na organização e em última analise nos resultados e satisfação obtidos pela empresa!
Um líder não se pretende eterno, pois sabe que essa perpetuação trará menos valia para a empresa através da cristalização de ideias e procedimentos.
Encontrar alguém com estas qualidades não é fácil.
No passado já houve, neste momento vivemos uma crise de liderança.
Numa sociedade cada vez mais cínica e desiludida com a falta de atribuição de mérito em que o conhecido ‘factor C’ predomina, assumir a vontade e o desejo de criar uma organização deste tipo é quase um acto de coragem.
Infelizmente, não é a coragem que reina entre Druidas e seus capangas, mas sim a maldade e a prepotência e o medo que tentam instalar.
E como dizia Goethe, ‘o medo e a infelicidade geram o mal. E o mal propaga-se!’
Até quando vamos aturar o mal que nos fazem?

terça-feira, setembro 13, 2011

Zé Colmeia e os Potes de Mel

Boa tarde Amigos ouvintes
Hoje, não vos trago mais uma história da CACA, não nada disso.
Estou cansado da CACA e das suas tropelias, de modo que para desenjoar, eis que vos trago mais uma história para a pequenada.
Uma história mágica, linda como só as histórias de petizes sabem ser, com personagens adoráveis e cogumelos gigantes numa floresta de encantar, em que as árvores falam, os animais dançam, o mel corre solto e os passarinho chilreiam.
E tudo isto acontece, sem que os ditos cogumelos tenham culpa, ou não…
Vamos a isso então meninos e meninas?
Vamos lá, 3, 2, 1…….e eis-nos embrenhados na floresta mágicaaaaaaaa……...
A vida corria solta na floresta encantada, e na sua aldeia mágica, a aldeia dos Rotalumis.
Os habitantes, os Rotalumis, povo simpático e dócil, vivia feliz.
A sua aldeia era linda, farta, o sol brilhava para todos, as águas límpidas corriam por entre as pedras do riacho.
As casas em que os Rotalumis moravam eram bonitas, semelhantes a grandes cogumelos, com paredes brancas e telhados encarnados, salpicados com as flores que caiam e eram trazidas pelo vento. Uma coisa apetecível.
O dia a dia da aldeia era de encantar, com o vento a acariciar as árvores que abanavam levemente à sua passagem, um cenário idílico, bonito de se ver.
Os mais novos acordavam com o nascer do sol e deslocavam-se até à escola, um cogumelo gigante, onde os anciãos cheios de paciência e dedicação, carinhosamente os iniciavam nos ofícios da floresta.
O pôr do sol era coisa indescritível, só comparado à baía de Luanda.
Mas claro, toda esta paz e harmonia não era de graça.
Havia muito trabalho a fazer para manter a aldeia bonita e a funcionar e o mais importante era que cada um tivesse a sua função e a desempenhasse na perfeição.
Na aldeia, que era mágica, (como toda a boa aldeia que se preze num conto infantil), dizia eu, na aldeia mágica, os animais falavam.
Falavam e viviam todos em duas patas, lado a lado com os aldeões que pouco de humano tinham também.
Aliás, os aldeões eram até um pouco estranhos para quem não os conhecesse, e havia quem os comparasse aos Strumpfs (Smurfs para a rapaziada nascida depois de 85), mas em verde.
Um verde seco carregado, para melhor fugir aos predadores e se confundir no meio ambiente.
Igualmente se dizia que alguns dominavam poderes ocultos e magias mil, e que inclusive na noite escura, ao abrigo dos olhares estranhos, se atiravam de penhascos e conseguiam planar, voando lado a lado com os pássaros, em brincadeiras sem fim.
Eram histórias que a pequenada contava nas noites de lua cheia para impressionar os mais novos, mas havia quem jurasse serem verdade.
Mas nem só de histórias com Rotalumis poderosos vivia a aldeia.
Havia ainda aldeões normais que cuidavam da manutenção da vida corriqueira.
Havia o padeiro que assegurava pão quentinho todas as manhãs, o leiteiro que mugia as vacas, o grupo de caçadores que assegurava a carne para a aldeia, os pescadores, os apicultores, enfim um sem número de tarefas e ofícios desempenhados por quem de direito.
Um dia, um grupo de animais do bosque, fartos de viver aos restos e sabendo da vida farta que se vivia na aldeia mágica, quis aproximar-se e ver pelos seus próprios olhos.
Tinham ouvido histórias mirabolantes e decidiram ir ver.
Juntaram-se em grupo e acercaram-se da nossa pacata aldeia.
Sabiam que não era qualquer animal que era aceite na aldeia mas mesmo assim, resolveram investigar sem medo.
Aproximaram-se devagar, sem fazer alarido.
Os aldeões, gente boa e simpática acharam por bem acolhê-los, pois a aldeia precisava sempre de mais uns braços.
O trabalho era muito e havia sempre tarefas que poderiam ser desempenhadas pelos recém-chegados.
-Vinde, amigos, entrai na nossa aldeia sem medo diziam.
-Vindes por muito tempo, perguntou o chefe da aldeia?
Por alguma razão estranha, os aldeões deste tipo de aldeia falam sempre como se de um paroquiano beato de Trancoso se tratasse..
Adiante.
O líder dos animais, um urso grande conhecido por Zé Colmeia (não propriamente devido às parecenças com o verdadeiro, mas sim devido ao seu apetite insaciável), retorquiu:
-Não grande chefe, apenas procuramos um local para descansar e repor energias.
-Se nos puderes dar guarida durante algum tempo, agradecemos.
A hospitalidade dos aldeões era conhecida e outra resposta não se podia esperar.
-Ficai amigos, ficai pois vindes por bem, e sereis nossos hóspedes enquanto vos mantiveres fiel a essa bondade.
Era isso que os animais da floresta queriam ouvir.
Foram entrando, acomodaram-se e com o tempo foram criando raizes, raizes fundas...
Construiram cada um o seu cogumelo, com telhados encarnados, bonitos, janelas com rococós e grandes fundações. Muitos grandes, para que em tempo de tempestade os cogumelos abanassem pouco.
Os aldeões estranhavam a construção tão dedicada dos cogumelos, pois tempestades que se soubesse não tinham acontecido nos últimos anos.
Entretanto a vida na aldeia corria.
A aldeia, por não ser auto-suficiente necessitava de interagir com outras aldeias num sistema de troca directa muito semelhante ao usado na antiguidade.
Dinheiro, ouro ou moedas, era coisa que não havia, pois era por demais sabido que o reluzir do ouro só trazia ganância e dissabores.
Na aldeia queria-se paz e concórdia, de modo que as moedas de ouro tinham sido abolidas em tempos idos, naqueles tempos em que os animais não falavam...
Assim, uma vez que não havia moedas, a aldeia para subsistir dava o que tinha à troca de outros bens.
Trocava carne dos javalis que eram caçados, peixe pescado no riacho, algum pão e mel, muito mel.
A aldeia tinha uma cultura de mel muito grande, a maior da região.
Vinha gente de todo o lado para ver o mel, inclusive autocarros das câmaras municipais com anciãos das outras aldeias.
Havia mesmo um circuito de provas de mel explorado pela aldeia e que contava com muitos turistas.
Até aparecia num guia de bolso que atribuía estrelas ao mel.
E o mel dos Rotalumis estava sempre com a pontuação máxima.
Se outros tinham ouro, a aldeia tinha mel, e não se dava nada mal com isso.
As abelhas que o faziam viviam em perfeita comunhão com os apicultores, sendo bem tratadas, produziam mais.
Certo era que nem todos na aldeia podiam ser apicultores, afinal, era um recurso muito grande e valioso e não podia estar entregue nas mãos de qualquer um.
Assim, só os mais capazes e depois de treino intenso se dedicavam à colheita do abençoado mel, sempre saboroso e brilhante.
Mas como em tudo na vida havia regras e os aldeões também tinham uma.
E qual era perguntam os meninos e meninas?
A regra de ouro era, o mel só era colhido por alguns mas em quantidades aceitáveis, para não depenar a cultura e manter mel para os que viessem de seguida.
Tipo pousio, mas em mel.
Só que os animais que entretanto já viviam na aldeia como se dela fossem donos, não gostavam da regra.
E aí começou o problema e a vida na aldeia nunca mais foi a mesma.
Os animais achavam que não, se o mel estava ali era pra encher a pança à fartazana porque o que é bom é para se comer.
E o mel era do melhor. E brilhava...
Assim juntaram-se e disseram ao grande chefe que não, a partir de agora as regras mudavam.
O grande chefe ainda tentou dizer que não podia ser, que não o fizessem que assim iam escassear os recursos no futuro e a aldeia ia sofrer, a sua aldeia.
Ainda os lembrou que eles eram só convidados, que na realidade não eram os donos da aldeia.
Nada resultou.
Os animais da floresta não queriam saber, iam ter o mel todo, desse por onde desse.
Assim, desrespeitando os aldeões que os tinham acolhido, e munidos de pouco escrúpulos, mais parecendo um pesqueiro espanhol em águas lusas, daqueles que aspira o fundo do mar, eis que, dedicaram-se à “apanha” do mel.
Em pouco tempo as colmeias ia definhando e o mel era saqueado a bom saquear.
O mel que outrora corria solto, agora não mais brilhava.
Os aldeões que outrora tinham o seus potes cheios, vazios agora estavam.
A própria aldeia passou a não ter excedente para trocar por outros bens, pois Zé Colmeia e os animais da floresta tudo arrasavam.
Os aldeões andavam angustiados pois todos sabiam do que se passava mas ninguém ousava enfrentar Zé Colmeia.
Outrora um animal simpático, o nosso Zé tinha-se tornado um animal ganancioso, sem moral e usurpador das boas energias da aldeia.
Fazia lembrar aquele mauzão das cowboyadas de Domingo à tarde que aterrorizavam a cidade fronteiriça de Peco YuppiYaYa MotherFuc**r Ville (Population. 1902)
Todos sabemos o que lhe acontecia quando chegava o John Wayne não sabemos...
Adiante.
Havia quem dissesse que só ele sozinho, já tinha no seu cogumelo 264 potes de mel, cheinhos até acima. A transbordar.
E não dividia com ninguém.
Zé Colmeia achava-se acima da lei da aldeia e ia levando a sua avante.
Até que um dia o amor...
Um dia o nosso Zé estava numa das suas passeatas matinais pela floresta para manter a forma e eis que se enamora por uma ursa muito bonita que por lá andava.
A ursa, usando todos os seus atributos encantou o Zé que ficou caidinho e se demorou mais no passeio.
Enquanto o Zé colhia flores e contava as façanhas, na aldeia...
Os aldeões aproveitando a saída do Zé, mandam um emissário à aldeia mais próxima onde havia uma loja das chaves do areeiro.
O emissário explica que era uma questão de vida ou morte e pede urgência, antes que o grande urso volte.
Pelo trabalho vai logo prometendo, um pote de mel e não se fala mais nisso.
Os chaveiros atraídos pelo mel, acorrem à aldeia e em menos de um nada, entram no cogumelo do Zé.
Ao abrirem a porta, espanto, indignação, raiva.
Os tais 264 potes de mel.
Quase não havia espaço no cogumelo tamanho era o saque.
Era verdade, Zé Colmeia açambarcava potes como se não houvesse amanhã.
Os tipos da chaves que não vão em cantigas tinham que ser pagos, que lá indignação não é com eles.
Mas porque a indignação dos aldeões era grande, ficou acordado que o pagamento seria não um mas dois potes de mel.
Dos do Zé, pra não ser garganeiro...
E agora o que fazer com este malandrim gritavam os aldeões.
-Obrigamos a devolver o mel, gritavam uns.
-E se o cobríssemos de mel e o expulsássemos diziam outros.
Isso não, que o tipo é capaz de se vitimizar.
Conferenciaram e decidiram...
Quando Zé regressou do seu namoro matinal, a aldeia não era mais a mesma.
Estava diferente.
Ninguém no riacho, ninguém na rua, nada, só o vento.
Só não havia rolos de feno, porque não era época...
O Zé de inicio estranhou mas não ligou.
À medida que ia entrando na aldeia a estranheza ia-se tornando medo, muito medo, pois o barulho do silêncio era uma coisa ensurdecedora.
O que estaria a acontecer pensava o nosso Zé Colmeia.
Silêncio, vazio, desespero.
Ninguém, nem vivalma.
Estariam os aldeões a preparar um ataque aos seus potes?
Teriam contratado um urso maior para o enfrentar?
Tudo isto mais parecia um terrível episódio de The Twilight Zone, ou do Lost...
E agora menino e meninas?
Será que o Zé está preparado para o que vai acontecer?
Será que o Zé vai manter os seus potes?
Será que o Zé vai ter vergonha? A resposta para esta eu sei...
Só o tempo o dirá.
O tempo e eu, que sou o autor desta inverosímil história na aldeia mágica dos Rotalumis.
Não percam então o próximo e final capítulo desta aventura fantástica, com animais falantes, mel, casas em forma de cogumelos e muito, muito mais.