terça-feira, abril 07, 2009

O Tribunal do Santo Ofício

Chegados ao ano da graça de 2008, eis que devagar e sem razão aparente os casos de indisciplina começam a suceder.
Ninguém encontrava explicação para tal fenómeno.
Os AA que outrora eram exemplo de boa educação e dedicação à causa, mostravam agora comportamentos indignos.
Uns até insistiam que as camionetas tinham que andar com mais diesel do que aquele determinado pelas altas instâncias. Uma vergonha.
O preço do barril estava caríssimo e com a matéria prima a bater nos 150 não havia muita discussão.
Como tudo que sobe desce, lá veio o barril aos trambolhões, mas o que está dito está dito e vai de andar na reserva que isto não está bom de finanças.
Os casos mais graves ainda estavam por vir.
Um dia um rapaz de ascendência nórdica, filho de pais suecos, vai que teima de não sair com a camioneta.
Diz que não pagaram o seguro e se a BT o pára é o cabo dos trabalhos.
Afinal o seguro estava pago, era aquela velha máxima "the check is in the mail", neste caso aplicado ao recibo.
Excesso de zelo acusam uns, má decisão dirão outros.
Pelo sim pelo não, aplicou-se a pena máxima, mandou-se afixar em edital, para os que vêm a seguir ficarem enquadrados.
Enquanto isto acontecia, outro AA, neto em 3º grau do Major Alvega e benfiquista de coração, lembra-se que o treino poderia estar a decorrer e passa pelo estádio, para observação atenta das novas contratações.
Mas levou a camioneta.......
Os tacógrafos não mentem e monitorizam tudo.
Sr. Condutor apresente-se, mostre-me os documentos que o certificam para a prática da acrobacia e só um bocadinho que a porrada já vem.
Outros houve de menor importância, tal como aquele rapaz, também ele neto em 3º grau dum xamã poderoso da tribo guarani e que insistia que as camionetas andavam a uma velocidade excessiva. Havia que mudar isso, pois todos sabemos que uma das principais causas de morte é o excesso de velocidade.
Era zeloso o moço, embora não entendido pelos seus pares, mas os génios são mesmo assim.
Ninguém se esqueça que Mozart morreu na miséria e incompreendido à época.
E de música sabia o nosso amigo AA.
Não fosse a abundância de espaço, nem sequer valeria a pena referir o caso mais simples e de mais fácil resolução.
A historia resume-se a duas coisas sem importância e que mostram bem a diferença entre os grandes pecados e as tropelias de trazer por casa.
Este rapaz, filho de boas famílias não tinha especial apreço por conversa fiada.
Aquilo que dizia, dizia uma vez, se não o queriam ouvir não era problema dele.
Em criança sempre tinha sido assim, não era agora que iria mudar.
Além do mais com um curso de fim de semana de iniciação ao voo orbital tirado na Florida, sentia se aprisionado pelos limites da gravidade terrena.
Tal como os pássaros, também ele queria sentir a sensação de ser livre.
Queria voar mais alto, sempre mais alto. Desse por onde desse.
E assim o fez, ultrapassou todos os limites, sentindo o vento nas faces, cabelo solto, olhar traquina, sorriso de menino e quando da central o chamavam pelo rádio, ignorava, pois a sensação de liberdade era boa demais.
O nirvana estava alcançado.
A BT detectou as falhas bem como a central de rádio.
Comunicados os problemas às altas instâncias dirigentes, rapidamente se conclui que a maldade não era o seu mote, ao contrário dos casos anteriores em que as artes do demo se encontravam em cada gesto e em cada acto.
Assim sendo, aplicou-se a pena apropriada e até excessiva na óptica de alguns.
Turno da noite durante uns tempos, sempre acompanhado de AA mais zeloso, não vá a noite ser má conselheira.
Estava feito o enquadramento e tudo ficaria por aqui, não fosse o chefe do departamento das camionetas ligeiras ter sentido que o enquadramento estava mal feito.
Dito isto e seguidor da velha, porém em desuso, máxima “ou há moral ou comem todos”, não logrou os seus intentos e a moral caiu por terra.
Um homem sério diziam uns.
Um homem ultrapassado e pouco visionário diziam outros.
A vida das camionetas é dinâmica, há que seguir em frente.
E assim foi.....

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