sábado, abril 10, 2010

A triste vida dos Condomínios Fechados

Peço desculpa aos Amigos Ouvintes por hoje não vos trazer uma história de camionagem mas tenho andado ocupado com a administração do condomínio onde moro e tenho tido pouco tempo.
Passo a explicar.
Ao contrário do que possam pensar, não sou um rato rico, nem descendo de uma qualquer família de ratazanas reais.
Somos uma família de Ratos classe-média, trabalhadores e já conhecemos melhores dias.
Não poderei dizer que vivemos mal, realmente não é o caso, mas a loja dos queijos tem facturado pouco, o queijo não sai como antes, enfim, a crise é pra todos e as grandes superfícies com aqueles queijos baratotes têm sido concorrência forte.
Vivemos num condomínio simpático que incorpora 3 prédios de apartamentos e um apart-hotel.
Dentro do complexo temos vários jardins relvados, uma zona para os petizes brincarem com piscina de crianças e uma piscina maior para adultos, que é partilhada com o apart-hotel.
Cada apartamento tem ainda 2 lugares de garagem.
Não sendo um palacete em Biarritz, é confortável o suficiente, um lar portanto.
Mas viver em condomínio não é fácil.
Nada fácil.
Pode-se ter sorte com os vizinho, mas também se pode ter muito azar.
Nunca sabemos o que vamos encontrar, como na Box of Chocolates do Forrest.
Run Forrest run...
Quando nos mudámos, achámos que num condomínio tão simpático apenas iríamos encontrar gente de bem.
Primeira decepção.
Tal como na Box of Chocolates, também aqui temos de tudo, gente boa e gente mais bera, uns mais novos outros mais velhos.
Até cá mora um rapaz primo direito daquele antigo dirigente futebolístico que habita agora na velha Albion, aquele do “Lucky Me”, há ciganos daqueles que já deixam as filhas ir à escola, mas continuam ciganos, há uma meia dúzia de descontentes com o mundo, enfim, uma panóplia de sensibilidades.
Eu sempre pertenci à maioria, ou seja, não me ralava muito, deixava a direcção do condomínio pra quem percebia e estava mais preocupado com a organização dos jogos de futebol ao sábado de manhã com o resto da rapaziada.
Mea Culpa.
Até à 2 anos atrás, tínhamos a gestão entregue a uma daquelas firmas, que se encarregava de tudo e apresentava a factura no final.
A vida corria na normalidade e por culpa de todos nós, nunca ligámos muito à gestão da coisa.
A relva andava aparada, os elevadores pra cima e pra baixo, a piscina limpa e o apart-hotel cheio de ingleses o que conferia um aspecto internacional e dava algum glamour.
Depois um de dia de trabalho, sabia mesmo bem chegar a casa e não me preocupar com mais nada, só relaxar e apreciar a paisagem.
Andei assim anos e anos, até que...
Nos últimos tempos comecei a achar que o condomínio estava a ficar com pior aspecto.
A tinta dos prédios a descascar, algumas luzes das escadas iam-se fundindo e não eram trocadas, a relva mal aparada, a piscina com folhas, enfim, coisas poucas mas que me começavam a irritar.
Liguei pra empresa e disseram-me que estavam ao leme, eu que não me aborrecesse que iriam tratar, que não me preocupasse, que estavam ali pra mim.
Esperei pra ver.
Passados uns tempos, nada melhorava, as luzes das escadas iguais.
Os ingleses também começavam a escassear e o apart-hotel já não gerava o dinheirito habitual.
O parque infantil com equipamento partido e os miúdos até já tinham medo de voltar à noite pra casa pois até as luzes das partes comuns começavam a não ser substituídas.
Isso tudo aliado à degradação evidente do edifício, tornava imperativo uma acção.
Juntei mais 4 amigos, dos que jogavam comigo aos sábados e transmiti a ideia.
Rapazes, não há volta a dar, os jogos vão ter que esperar.
Epá, mas logo agora que não nos dá jeito nenhum e estamos quase a perder a flacidez.
Pois, não dava jeito, eu também teria preferido ficar em casa a assistir de camarote, mas não podia ser, algo tinha de mudar.
Quando chegou a altura de renovar o contrato com a empresa gestora, pedimos uma reunião de condóminos e propusemos que passaríamos nós a fazer a gestão da coisa.
Ui, que fim do mundo.
Eles não gostaram.
Ah e tal, porque já estamos aqui há muitos anos e conhecemos bem os problemas, somos quem pode resolver melhor isto.
Estava cansado de conversa e de promessas.
Tivessem-no feito quando tiveram oportunidade.
Não desistimos e pedimos uma votação pra deixar que a democracia levasse a melhor.
Embora muitos condóminos tivessem optado pela continuação da tal empresa, acabamos por ter mais votos.
Seria a nossa vez de mostrar serviço e dado que morávamos aqui teríamos concerteza a ajuda dos outros, igualmente interessados em que tudo melhorasse.
Seria assim?
Começámos com uma limpeza profunda para descobrir os cancros existentes.
Analisámos os contratos de serviços, assinados com terceiros, pela empresa anterior.
Nem queria acreditar.
Os atropelos ao bom senso eram enormes.
Os tais da experiência acumulada tinham feito e assinado contratos com empresas de amigos, os seguros do prédio tinham sido feitos em seguradoras duvidosas sem se perceber bem os porquês e as contrapartidas.
O condomínio tinha 13 contas diferentes espalhadas por bancos, pagando taxas em todos eles e despesas de manutenção.
13 encontrei eu...
Até o bar da piscina, vim a descobrir ter tido em tempos a exploração, entregue à filha de um condómino amigo dos donos da empresa, sem aprovação da maioria e com largo prejuízo para o condomínio.
Com amigos assim, eu ganho a exploração de qualquer coisa.
Aliás, estou a pensar falar com um amigo que tenho na Agência Espacial Europeia a ver se consigo ficar com um pedacinho da exploração da lua.
Sim que apesar dos rumores contrários, todos sabemos que o velho satélite é mesmo feito de queijo.
Dava-me um jeitão.
Há grandes negócios sem dúvida, é preciso é encontrá-los e amigos nos sítios certos.
Encontrei mais uma que nada tinha de abonatório e tudo de elucidativo.
Em tempos tivemos um senhor que prestou bons serviços ao condomínio, então não é que, sem levar a decisão a reunião de condóminos, a tal empresa decidiu assinar uma avença ad aeternum com o senhor.
Se ele a merecia não sei, provavelmente sim, mas o mínimo era terem-me perguntado.
Afinal era o meu dinheiro.
Percebi nesse momento que a empresa tinha estado tempo demais à frente do condómino e que já se julgava dona disto.
Tinham-se esquecido que estavam cá para gerir um complexo do qual não eram os donos.
Ainda por cima tinham alguns, não muitos é certo, condóminos amigos que achavam estes atropelos muito bem feitinhos.
Já dizia aquele general romano do século III A.C. em carta ao Imperador, que este povo da parte mais ocidental da Iberia, não se governa nem se deixa governar.
Quanto à segunda ainda subscrevo, agora quanto à primeira...
Com isto tudo na mesa, iniciei a gestão optando por melhorias consideráveis em todo o condomínio.
Comecei por mandar pintar o mais pequeno dos prédios e dar-lhe uma cara nova.
Ficou bonito, com um aspecto rejuvenescido.
Os moradores até passaram a andar mais alegres.
Como o orçamento não dava pra mais tive que fazer as coisas com calma.
Passei de seguida para o do meio e claro, deixei o prédio maior para o fim.
Mudei o contrato dos elevadores pois vim a descobrir que havia comissões por fora e esquemas estranhos.
Mudei igualmente a empresa de segurança, mandei relvar as partes do jardim que estavam piores e aos poucos a relva começou a nascer.
Está rala, mas já se vê qualquer coisa.
Fiz imensas melhorias sempre a achar que os condóminos iriam aprovar, afinal era uma mais valia para as suas próprias casas.
Mais um engano da minha parte.
Vcs não queiram saber o que eram as reuniões de condomínio.
Gritaria, gente mal disposta e muitos que nunca fizeram nada, sempre a criticar.
Não eram muitos mas eram tão chatos.
Parecia que estavam de mal com tudo.
Nada os agradava e inventavam problemas sempre que podiam.
Defendiam que tendo em conta os outros condomínios, não era altura de fazer melhoramentos no nosso.
Belo pensamento, sim senhor.
Chama-se o nivelamento por baixo, Chelas Style.
Acho que a ideia era deixar a coisa ficar com tão mau aspecto que já ninguém daria nada por isto.
Sempre desconfiei que deveria haver interesse no terreno e alguém deveria querer ficar com isto a baixo preço.
Pato bravices.
Se não havia dinheiro pra jardins, era uma vergonha porque estava tudo abandonado, se mandava relvar não gostavam da relva.
Lembrava aquela metáfora do rabiosque e dos pantalones.
Tínhamos aqui um espaço de lazer que a câmara em tempos tinha prometido ajardinar.
Nunca o fez e eu quis transformar a zona num parque para os nossos condóminos mais velhos.
Um espaço onde pudessem ler e descansar melhor.
Que era impossível, que ninguém ia convencer a câmara.
Lá fiz a minha pressão e o que é certo é que a mesma câmara acabou por ceder e relvou-nos este espaço para os velhotes poderem estar.
Hoje em dia sinto que o complexo está muito melhor.
Temos mais espaços verdes, tudo funciona, há transparência nas contas do condomínio, enfim, tudo pronto para quem venha a seguir pegar nisto e continuar.
Claro que tive que acabar com o negócio de muitos que cirandavam à conta do condomínio.
Afinal era o dinheiro de todos nós que estava em causa.
Entretanto os dois anos desta missão chegaram ao fim.
Aquele grupo que durante este tempo falou tão mal da minha gestão, de certeza que iria avançar, pois tem ideias bem concebidas e bem estruturadas.
De certeza que iriam.
Pensava eu.
Com a breca, errei de novo.
Então não é que ninguém apareceu a candidatar-se.
Deviam estar distraídos e deixaram passar o prazo.
Só pode ser essa a explicação.
Depois de tudo o que disseram, agora não aparece vivalma?
Nada? Zero?
Como é possível que depois de tudo, nem um descontente tenha avançado, eles que tinham sempre tanto a dizer.
Seria falta de coragem?
Ao ver que ninguém aparecia meti a minha candidatura para que não houvesse um vazio na gestão, afinal ainda há contratos a decorrer e obras a finalizar.
Os meus amigos dizem-me que não surgiram outros porque sabiam que perdiam conta mim e que não queriam passar pela vergonha.
Outra versão é que talvez tivessem medo de sentir o seu real peso entre os condóminos e por isso não vieram a jogo.
Não sei o que pensar.
A convicção das suas palavras anteriores era tal, que não acredito que seja isso.
E então, o que fazer?
Estou cansado, mas sei que tenho que terminar esta missão.
A partir de agora vai-me ser muito mais difícil aceitar as criticas.
Tiveram a chance de mostrar o que valiam e não quiseram.
Moral, perderam-na toda e só não vê quem não quer.
Depois de tanta gritaria era só apareceram na arena certa.
Não quiseram.
É muito fácil gritar da plateia que o forcado não presta.
Sentadinho a olhar cá de cima o touro tem sempre ar de bezerro.
Se tiverem vergonha na cara, ficarão caladinhos, mas do que eu vi durante estes dois anos, já não digo nada.
Entretanto no dia da votação, espero que todos sem excepção apareçam pra meter a cruz no quadradinho.
Sim porque eu gostava de voltar aos jogos de sábado de manhã e já que vou usar esse tempo a tratar dos problemas de todos, o mínimo era mesmo virem mostrar que existem e que realmente se importam.
Se não for incómodo claro.
E é por estas e por outras que quando a loja dos queijos começar a dar, largo o condomínio, compro uma moradia e vou morar pro campo.

Desculpem o desabafo e prometo voltar às histórias da camionagem já a seguir.

8 comentários:

  1. Ora ai está! Enquanto o tempo era de dizer mal, de acusar de indignos, mentirosos e outros mimos, a "direcção" do condomínio era fácil. Quando chegou a altura de nos chegarmos à frente, não apareceu ninguem!
    Pois é amigo Rato, estou ansioso pela próxima reunião de condomínio! Espero que os condóminos não comam muito queijo, para manterem a memória intacta de forma a que tudo o que foi dito e por quem o foi, não caia no esquecimento. Eu pela minha parte não me esqueço.
    Abraço

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  2. Palavras sábias, Rato. Aconteceu o mesmo recentemente na UPA. Criticavam, criticavam, mas não compareceram a votos. Fugiram. Como sempre. Realmente a paciência tem limites. Até neste canto lusitano. Eles só percebem à lei do chicote. Se calhar o Botas tinha razão.
    É mais fácil destruir do que fazer coisas úteis e visíveis. Mas os cães ladram e a caravana passa serenamente. Já agora, isto chama-se um problema de acção colectiva: todos têm um incentivo a usar os bens comuns, no teu caso o condomínio, porque não suportam um custo explícito para eles (em tempo e dinheiro); mas não têm um incentivo para contribuírem, porque o benefício das suas acções são divididos por todos os outros condóminos e o seu custo pessoal (em tempo) é superior ao benefício que eles retiram pessoalmente dos arranjos e do bem estar aumentado. Chama-se também a tragédia dos comuns. Repara que os bancos dos jardins estão quase sempre partidos. Todos usam e ninguém os repara pelas mesmas razões. A UPA é o mesmo problema. Por isso deve haver sempre um preço associado a todas as acções ou empreitadas. Sinaliza credibilidade, vontade e responsabiliza quem as executa com vantagem para quem as recebe. Porque no fim ninguém agradece nada a ninguém. No meu condomínio aconteceu o mesmo. A empresa andava a roubar, foi corrida, levantámos o condomínio, fartámos-nos dos críticos e deixámos um senhor lá à frente, mas agora está a voltar ao mesmo, lentamente. Dos críticos nem sinal. Chama-se entropia. Afecta todos os sistemas humanos e físicos. Se não houver cuidado com a UPA, volta aos mesmos esquemas. Os abutres estão à espreita, incapazes de fazer mas sedentos de pilhar o cadáver.

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  3. Caro administrador... tens o meu voto!

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  4. Se fores para o campo, evita a vizinhança do criador de equídeos, do guevarista, do amo do batráquio e do próprio batráquio: podes ficar sem a carteira e sem a carroça, além de teres de suportar um cheiro nauseabundo e o latir dos canídeos quando são torturados pelas frustrações das bestas imundas.

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  5. Com tantas polémicas e ainda se anda tudo a "masturbar" com o caso facebook.. isso é que é não ter vida própria!

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  6. "Nós gostamos de porcos. Os canídeos olham-nos de baixo para cima. Os felinos olham-nos de cima para baixo. Aqui neste chiqueiro, os porcos imundos olham-nos sempre como iguais."

    Amo do Batráquio e Equídeo, in "Tomos Filosóficos, Vol II", Editora Reflexões na Estalagem, 2010

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  7. Já que se fala em transparência. Pretendemos conhecer as actas das reuniões e os negócios secretos, em 1999, do Amo do Batráquio, do Guevarista e do Bácoro Fugitivo com a cúpula da CACA. Pretendemos saber quem deu o quê, a quem, em troca do quê, quando e para quem. Quem mentiu a quem. Queremos toda a verdade, apenas a verdade e nada mais do que a verdade. E queremos apurar as responsabilidade e as respectivas consequências. Doa a quem doer. Vai ser interessante ver de que massa são feitos, afinal, estes falsos moralistas.

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  8. O Caso "Facebook" ou FuçaBook como o patilhas lhe chama é lindo.
    Mostra bem as prioridades dos "Chefes".
    Eu que por acaso até conheço os intervenientes todos de um lado e de outro, não tenho dúvidas.
    Nem sobre o que fizeram nem sobre o que foi dito.
    Estranho é que de repente os visados foram elevados à condição de Santos.
    Alguém se lembra da alcunha Munique-Viena?
    Porque era mesmo?
    Sobre o outro, tinha tanto para dizer que é melhor nem entrar por aí.
    Não me apetece ficar uns dias a almoçar no chinês e a aturar cursos parvos.

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