terça-feira, março 09, 2010

Cântico Negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
Cântico Negro de José Régio é hoje o mote para mais uma história da camionagem, neste caso da CABO.
Todos andavam nervosos.
O poder na CABO estava entregue aos mesmos já ia para 6 anos e quem o tinha não o queria largar.
Sabia bem, era inebriante, dá estatuto e aos pequeninos, eleva.
A direcção cessante andava nervosa.
Uns rapazolas, quase recém-chegados, tinham o desplante de lhe fazer frente, eles que tinham durante estes 6 anos perdido tanto do seu tempo a negociar acordos milionários e condições principescas.
As pessoas são mal agradecidas e não reconhecem o esforço alheio.
Agora com a democracia a ganhar terreno era tempo de escolhas.
Tudo dependeria dos argumentos de parte a parte.
Já se sabe que nisto dos argumentos quem não os têm, arranja.
Tal qual Professor Pardal de trazer por casa eis que a direcção actual da CABO tenta a primeira jogada malandreca.
Como vamos pôr a rapaziada de mal com estes desafiantes, pensaram?
E se dissermos que os desafiantes é tudo boiolada.
Epá, isso não que até a lei já permite e vai-se a ver, em menos de um nada estamos aí com um processo crime, que agora está na moda.
Pois é, maldito estado liberal.
Já sei, diz um, vamos colar os tipos àquela troupe foleira dos condutores.
Dos condutores? Mas até temos gente nossa que casa e tem filhos com eles.
Feitas as contas achou-se que seriam mais os ganhos que as perdas e arriscou-se.
Ponha-se em decreto à boca pequena que os desafiantes são uma criação da UPA.
Vamos espalhar que não passam de robots sem sentimentos, ao melhor estilo do Metropolis, sim aquele do Fritz Lang, e que seguem a agenda dos condutores.
O plano foi traçado e vai de o difundir.
Tentando capitalizar algum atrito inter-classes que pudesse haver, vai de insinuar que os desafiantes eram uma lança da UPA na CABO.
Feio, muito feio.
Os paranóicos são assim.
Além de menosprezar as capacidades intelectuais dos desafiantes, invocava um levantar de barreiras entre classes só aceite por quem é muito poucochinho.
Talvez tivessem saudades de outros tempos, daqueles em que íamos todos à missa às 19h em ponto e ai de quem não apareça, que isto de estar no Rio, não é a passeio.
Ao que parece, os votantes da CABO não são daqueles das orelhas grandes e pêlo cinzento, de modo que argumentos poderá haver, mas por favor, mandem dos inteligentes.
Como dizia Régio - Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Entretanto, num dia sol radioso, os maquiavélicos decidem juntar-se num almoço bem regado.
Sempre se aproveitava mais umas febras à conta, não vá isto dar a volta e de repente acaba-se tudo.
Medo, muito medo.
Eram 16 da cúpula dirigente sentados à mesa da casa de pasto “A Galinhola”.
Ambiente tenso, de maquinação e preparação de embates.
Como sabemos o mundo é um T0 na Damaia, daqueles pequeninos e com poucos roupeiros.
Com uma longa lista de casas de pasto disponíveis, os desafiantes resolvem alinhavar as suas ideias num almoço, com a breca, no mesmo local.
Única diferença, à conta dos próprios. Feitios...
O ambiente tornou-se tenso, os pássaros calaram-se, as árvores pararam os ramos, nem um som se ouvia.
Tu Tu ru ru.....pi pi pi (O bom, o mau e ......vcs sabem, é favor assobiar)
Os desafiantes, como é próprio dos que dormem descansados, na risota costumeira, o bom ambiente ao rubro e a certeza de quem sabe que o caminho é difícil mas a determinação é maior.
Do outro, os olhares semi-cerrados de quem se sente no fim de um ciclo.
Os outros, mais novos, mais bonitos, mais pujantes, não há duvida, chateia.
Os proprietários da casa de pasto deram por bem empregue a regra “No guns allowed” no estabelecimento.
O que se perde em liberdade pessoal ganha-se em refeições com mortos a zero.
Vai-se a ver, compensa.
Findo o repasto, os problemas não acabavam para a cúpula, além de terem que se cruzar com os desafiantes entre uma sopa e umas febras, eis que agora tinham os da sub-cave à perna.
Então não é que aquela miudagem que entrava na CACA pela sub-cave, agora queria mais.
Só exigências pá.
E ainda por cima interpelavam a cúpula.
Ousadia dos pequenotes.
Que lhes dizemos? Sei lá, olha já sei, vou dizer que estivemos a almoçar com os desafiantes.
Fica ao género, “Gostas da mãe ou do pai? Carne”, mas ninguém vai notar, eles são tótós e nós uns espertalhões com anos disto.
Então se conseguimos vender a ideia da sub-cave não íamos vender esta?
O que pode dar errado?
Pois, mas os Sub-Caveiros não são arraçados de burrico e num instante e meia dúzia de sms depois (mais uma vez maldita sociedade de informação), eis que surge a verdade e afinal apenas a casa de pasto era a mesma.
Parabéns aos proprietários pela boa receita desse dia.
Não existia nenhum acordo secreto entre as partes para a venda da alma alheia.
Os vendedores de sonhos são assim e falhada esta eis que em mais uma de mestre, tentam convencer os sub-caveiros que vão estar com eles na melhoria da sua situação. Aquela criada por eles próprios a troco de uns cobres.
Que sim, a sub-cavice será revogada, estamos em conversações e tal, a coisa sai mais mês menos mês, talvez pró verão.
Os nosso advogados já estão a tratar.
Esperemos que não sejam os mesmos que trataram antes...
Era mais ou menos como Himmler dizer que estava ali para ajudar, mas enquanto não acontecesse, vai lá andando pro forno que tem mesmo de ser.
As minhas desculpas a Himmler pela comparação, pois esse sempre tinha convicções.
Eram lá as dele mas ninguém é perfeito...
Seria toda esta atitude culpa do período eleitoral?
Seria a fuga pra frente, a solução dos desesperados?
Fica a pergunta
E de Régio fica a resposta
Só sei que não vou por aí.
E Vocês por onde vão?

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