segunda-feira, março 08, 2010

Os Caminhos da FÉ - Defesa da Usura

Defesa da Usura - “Cada homem deve ser o único juiz do modo como obtém lucros, não tendo de ater-se a empecilhos morais”
Serve a presente citação para contar mais uma história da camionagem.
Aos poucos, silenciosos como a noite, começaram a despontar na CACA, uns rapazes, que alçados de uma nova fé, quais cristão renascidos, apostavam numa postura diferente.
Miudagem outrora guerreira, alguns com créditos firmados na UPA-LA, mas que rapidamente descobriram outras crenças.
O caso incomodava uma larga maioria que estranhava o facto de mudanças tão radicais acontecerem em gente tão integra.
Lá voltavam as suspeitas.
Só podia haver duas explicações para tal mistério.
Acreditavam no esgotamento da postura anterior, tinham visto a Luz e o seu arrependimento quanto a guerras passadas era genuíno, ou entrávamos mais uma vez no terreno da Umbanda, e da santeria e inebriados pelos fumos de um qualquer orixá, as suas mentes estariam possuídas.
Só poderiam ser estas as explicações.
Havia casos e mais casos, e cada qual diferente à sua maneira.
Saem 3 para ilustrar o sentimento geral.
O primeiro, muito marcante, dava conta de um rapaz, com passado de filiação guevarista e de colagem de cartazes nas noites frias da ditadura.
Tinha sido um acérrimo defensor dos Condutores. Ou pelo menos parecia.
Na sua vida de condutor tinha-se deparado com inúmeros contratempos, mas o que realmente o chamava, eram outros desafios.
Nos seus sonhos sempre pensara que isto da Camionagem é giro, mas bom, bom, seria a radicalidade da subida sem oxigénio.
Isso do O2 era pra garotos e tantos picos que há no mundo, todos à espera de um novo Sir Edmund.
A tarefa era dispendiosa, mas com alguns patrocínios nada o pararia.
Levando a carta a Garcia, iria vencer todas essas barreiras.
Ficaria conhecido como o PM.
Viu a Luz, mudou a sua atitude e num flip-flop à retaguarda, eis que surge patrocinado pela CACA-OI, na sua missão de levar o nome da pátria sempre mais alto.
Até programas de televisão teria e só os impuros poderiam duvidar da grandiosidade do gesto.
O cume seria o limite. Por agora.
O segundo caso era um seguidor deste nosso amigo.
Rapaz forte, dado às artes náuticas, nós de marinheiro era com ele.
E que nós ele tinha dado.
Tendo estado à frente da UPA, sempre foi visto como um homem de mão do precedente.
Pura mal-discência, pois tinha provado todo a sua sagacidade quando, entre muitas outras, resolve fazer um investimento avultado nuns papéis de futuro valioso.
Vamos tirar o pé da lama pensou, o Comendador que se cuide que em menos de um nada estamos nós a comprar obras de arte de gosto duvidoso.
Mandou comprar quilos e mais quilos do dito papel na certeza da riqueza rápida.
Como todos sabemos, os mercados não respeitam ninguém.
Avaliou mal a coisa está visto, mas um dia que haja falta daquele papel fofinho de folha dupla, que vem em rolo, em grupos de 24, nesse dia o seu valor será reconhecido, pois nesse dia a UPA terá stock para dar e vender.
E o Lucro virá.
O terceiro caso refere-se a um coração de ouro e é um tanto ou quanto diferente dos anteriores.
Homem bom, tinha tido uma pega com os homens da Televisão é certo, tudo devido a um diferendo sobre a importância da boa sintonização do Fishing Channel no televisor da sala.
Não levou a sua avante, a emissão continuou com chuva, mas neste caso bem sabemos como funciona o serviço de instalação.
É tudo, é tudo e vai-se a ver chegada à hora é só contrariedades e fios por fora.
Tinha no passado sido o grande defensor de um condutor, condutor esse apanhado com a camionete carregadinha de xarope para a tosse adulterado e que ficara retido mais a sua camionete.
As suspeitas eram grandes, mas ao fim de um ano o rapaz lá se safou.
Parece que o xarope não era dele e queriam mesmo era apreender a camionete.
Nesse caso muito a ele se deveu.
Sem ter a certeza de nada, atravessou-se no caminho das autoridades e lá conseguiu a libertação.
Foi um feito.
Mas agora andava danado.
A UPA tinha escolhido pra conselheiro, um seu arqui-inimigo.
Perto deles o Batman e o Pinguim eram como irmãos.
E o problema do outro estar a ser pago pela UPA nunca tinha sido digerido.
Nem por ele, nem pelos "Compostinhos" (E ainda voltaremos a eles no futuro).
Que era caro diziam, mas caro não devia ser pois este nosso amigo assumia que nem se importaria de pagar mais uns cobres, desde que fosse a outro.
Coisa esperta.
Mais uma vez, alguns maldosos diziam que caro, caro, era ter hipotecado 10 anos de vida em conversinha mole, mas já todos sabemos como são as pessoas quando querem dizer mal.
Devido a essa escolha, tudo era diferente agora e a sua visão das coisas também.
Achando-se acima de qualquer suspeita, subia aos palanques pra falar à populaça.
De revista em punho, qual arrumador de automóveis do chiado, falava com a soberba e a certeza que só tem quem sempre se sentiu acarinhado.
Talvez estivesse a hipotecar esse carinho, mas pouco o importava.
Não pedinchava moedas, exigia cabeças.
Ai Maria Antonieta, ainda bem que já foste, porque este povo continua igual.
Uns diziam que andava instrumentalizado, outros que apenas tinha a visão toldada pela amargura.
A História fará o juízo.
Muitos mais haveria pra contar e numa ocasião propícia serão relatados, mas por agora chegam estes pra mostrar que quando a fé é grande move mais que montanhas.
Move convicções...

2 comentários:

  1. Meu caro Rato Louro, ao longo destes últimos tempos tenho vivido as maiores desilusões com alguns companheiros das camionetes.

    Eram homens de coragem, homens firmes e homens convictos. Considerava-os um exemplo para a minha classe. Condutores cuja palavra dignificava uma classe inteira. Sinto-me triste e pior do que isso, nunca na minha vida de camionista me imaginei viver rodeado de tanta gente falsa.

    Alguns viraram a casaca e tornaram-se seguidores fieis (alguns - pasmem-se - passaram a colaboradores dos patrões da CACA).

    Outros, viraram reaccionários (capazes de envergonhar o pobre do Che caso fosse vivo).

    Outros passaram a ser do contra, só porque sim. Não interessa as razões. São do contra e ponto final.

    Pior ainda, houve quem virasse bufo. Sim, leram bem, eu disse bufo. Ele é jornais, televisão, jornalistas, etc. Bufam tudo. Gente mínima, desleal e execrável. Uma vergonha para a classe dos camioneiros.

    Todas estas mudanças tem uma única motivação: destruir para reinar. Há que fazer cair a UPA, custe o que custar. Há que descredibilizar, custe o que custar. Impensável mas real. Não interessa as razões, o importante é dizer não, minar, destruir, contaminar, poluir. Um nojo.

    Nunca imaginei dizer isto, mas deixei de ter orgulho em conduzir o meu TIR.

    Só não me dedico à agricultura por mera incompetência minha...

    ResponderEliminar
  2. Meus caros,

    O aparecimento deste blogue é para mim uma novidade e um alivio.
    Uma novidade porque passamos a ter um meio de conhecer as histórias, que são internas e que são nossas, e que pertenceram por direito ao ............ no passado e que deixaram de lá estar porque no ............ é preciso a identificação de quem escreve e a coragem de dar a cara.
    Um alivio porque é preciso continuar a ter a coragem de falar destas coisas para que elas se tornem conhecidas e todos possamos aprender com o passado.
    Não estou a chamar cobarde ao rato louro por não dar a car, uma vez que percebo o perigo de falar abertamente destas coisas para alguém que tem a perder com o facto de ser reconhecido.
    A verdade é que é preciso alguma coragem para abordar o tema da verdade, mesmo que de forma anónima.
    Tenho o maior respeito pela classe e pela forma como sempre demonstrou bom senso em situações de muita pressão e stress. Ou não fosse esse o tipo de reacção que esperam de nós os que, em ultima análise, nos pagam o dinheirito. Bom senso e decisões acertadas quando confrontados com situações de stress extremo.
    Penso que bufos, sabujos, sacanas, filhos da pu.., merdosos, gente boa, seres superiores, druidas e xamãs existem em todas as classes profissionais.
    Temos de viver com uns seguindo-lhes o exemplo e evitar ser fecundados pelos outros. O discernimento de ver quem é quem é o que se exige para sobreviver em qualquer grupo.
    A UPA somos nós. Os camionistas. Todos.
    Só temos de retirar deste blogue o que tem de melhor e aprender. Inteligência é aprender com os erros.
    Obrigado ao Rato Louro por nos dar a sua escrita.
    Rato Louro fala verdade. Não se identifica. Mas fala verdade.
    Gostaria de um dia te conhecer.
    Um abraço

    ResponderEliminar